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Entrevista Leo Maier


O blues no Brasil teve um boom a partir de meados dos anos 2000. Houve um ganho de qualidade impressionante, e Leo Maier é mais um dessa nova geração de blueseiros.

Natural de Blumenau, Leo é dono de um blues natural, sem sotaques e vícios forçados, com bastante fluência, de uma técnica de guitarra exemplar e de vocais afinados. Também é um grande conhecedor da história do estilo, essencial para o domínio pleno do idioma musical. "O jump blues desenvolveu-se no final dos anos 1930 principalmente na Costa Oeste dos EUA. Tem uma forte presença de sopros, piano baseado no boogie-woogie, na maioria das vezes ritmo acelerado e frenético, influência do swing das big bands", explicou Leo.

O músico catarinense possui uma obra merecedora de longas (e bem altas) sessões com companhia etílica [se cerveja, vinho ou whiskie, a critério do leitor, rs]. Seu disco I choose the blues é marcado pela harmonia entre o contemporâneo e o tradicional. "Você vai ouvir Blues moderno e mais tradicional nele. Busquei uma boa variedade de ritmos, de linguagens e nos temas das letras.Foi um marco pra mim, já que foi meu primeiro álbum e o processo de gravação foi muito divertido e cheio de aprendizado", contou.

Um artista maduro, convicto dos fundamentos musicais, estudioso. Leo Maier, que teve no rock os primeiros ídolos, é a resposta de quem pergunta 'como está o blues no Brasil?'. Muito bem, obrigado.


Ugo Medeiros – Como começou a sua relação com a guitarra? Leo Maier - Eu tinha treze anos quando comecei a prestar mais atenção na música e principalmente no som da guitarra. Nessa época descobri que minha avó tinha um violão antigo na casa dela, jogado em algum canto. Iniciei as aulas de violão aos catorze anos e meses depois ganhei uma guitarra do meu pai. Fui me apaixonando e descobrindo o mundo da guitarra rapidamente e logo mergulhei de cabeça na obra dos meus primeiros guitar heroes: Slash, Jimmy Page e Jimi Hendrix.


UM – O rock te levou ao blues. Agora, como foi a transição de um guitarrista roqueiro para um blueseiro [excelente, diga-se]? LM - Obrigado! Algumas das frases do Jimmy Page, por exemplo, são muito próximas às frases do Otis Rush, do Hubert Sumlin e do BB King. Aí comecei a sacar as diferenças no “tempero”. Ficava horas tentando entender o fraseado dos mestres, copiando solos nota por nota e absorvendo essa nova forma de expressão para mim. No Blues comecei a me importar mais com melodias, timbres, um fraseado certeiro e que realmente dissesse algo bonito para o público. A forma de estudar guitarra e ouvir música também mudou muito, mas acho isso algo natural no amadurecimento de um músico. Até hoje toco e amo o Rock.


UM – Como é a cena de blues em Blumenau? LM - O público do Blues aqui cresceu nos últimos anos. Temos um bom número de bares e casas que colocam blues em sua programação semanal ou mensal. Pequenos festivais e eventos acontecem esporadicamente. Blumenau tem uma história importante com o Blues e já tivemos muitos artistas nacionais e internacionais fazendo shows aqui. É um trabalho que traz resultados ao longo prazo e seguiremos na batalha levando a música que amamos para o maior número de pessoas possível. UM – Te vi falar uma vez algo como “bem antes de Elvis Presley já se fazia rock’n’roll na Costa Oeste, era o jump blues...”. Poderia desenvolver esse tema? LM - Podemos pegar a Shake, rattle and roll original (Big Joe Turner) e comparar com a versão do Bill Haley. Podemos pegar a That´s All Right original (Arthur Crudup) e comparar com a versão do Elvis. É tudo muito semelhante. A batida, as linhas de baixo e piano, a intensidade, energia e por aí vai. A guitarra do Goree Carter em 1949 na música Rock Awhile ou as linhas de piano, vocal e guitarra em Rocket 88 (1951) são exemplos do que viriam a chamar de rock & roll poucos anos depois. É claro que o Country e o Gospel foram fundamentais para o surgimento do Rock. Existem as questões raciais também. A indústria percebeu que essa música estava mexendo com os jovens brancos na época, e artistas negros não poderiam tornar-se os ídolos dessa nova geração. Demorou pra essa barreira ser derrubada. Bom, é apenas minha opinião e meu jeito de ver essa evolução musical e de comportamento.

UM – Por falar em jump blues, você tem um single super legal intitulado Jumpin’ with the band. Poderia falar sobre a canção? LM - Essa é a primeira música do meu primeiro EP (2015). Tenho um carinho especial por ela. Eu estava totalmente imerso no mundo do jump blues e quis registrar este momento. O Cristiano Ferreira fez um solo de guitarra incrível nela e o Dayvk Martins tocou bateria com uma energia e swing monstruosos. Ela ia ser instrumental mas resolvi colocar aquele coro “Jumpin´ with the band...yeah, yeah!” de última hora. O EP tem no total seis faixas e ela é a única música autoral.


UM – Poderia falar sobre o teu disco I Choose the Blues? LM - Lançamos em 2017 e tivemos uma ótima resposta do público, das revistas e sites especializados. Ele ficou um disco bem variado. Você vai ouvir Blues moderno e mais tradicional nele. Busquei uma boa variedade de ritmos, de linguagens e nos temas das letras. Foi um marco pra mim, já que foi meu primeiro álbum e o processo de gravação foi muito divertido e cheio de aprendizado.


UM – Você toca MUITO o resonator, sem falar que ele é lindíssimo! Poderia apresentar o instrumento? Você prefere tocar resonator ou guitarra? LM - O resonator é um belo instrumento mesmo! Ele surgiu no mercado em 1928 com o objetivo de proporcionar mais volume para os violonistas nas orquestras, bares, etc. Era quase impossível ouvir um violão no meio de todos aqueles instrumentos. Então surge esse violão de metal com um som poderoso que logo cai no gosto dos bluesmen e dos músicos havaianos. O resonator tem uma importância enorme na história do Blues e se tornou um símbolo do gênero. Eu toco mais com a guitarra e uso o resonator quase que exclusivamente pra tocar com o slide. Não sei qual deles eu prefiro. Sou apaixonado pelo som dos dois e ambos me causam uma sensação muito parecida. Com o resonator comecei a explorar mais as afinações abertas e é possível tocar na rua com ele e ser ouvido há uma boa distância. É um projeto incrível! A guitarra é uma parte do meu ser e é com ela que melhor expresso minhas emoções.

UM – Você lançou um EP em 2018, Flambo Sessions. Como foi? LM - Naquele dia entramos no estúdio para gravar uma música apenas, a The blues is good too your soul. Ela fez parte de um projeto do estúdio Flambo só com músicas autorais de artistas aqui da região. No fim das contas gravamos mais três músicas (sem ensaio nenhum) no mesmo dia e liberamos para as pessoas ouvirem na internet. Não lançamos cópias físicas dele. Tudo gravado ao vivo e sem overdubs.

UM – Voltando ao jump blues, quais diferenças entre esse estilo o Chicago Blues, o mais conhecido em todo o mundo? Poderia citar alguns nomes de cada estilo para nossos leitores? LM - O jump blues desenvolveu-se no final dos anos 1930 principalmente na Costa Oeste dos EUA. Tem uma forte presença de sopros, piano baseado no boogie-woogie, na maioria das vezes ritmo acelerado e frenético, influência do swing das big bands. No caso das músicas com vocal, temos um jeito muito característico de cantar dos chamados "blues shouters”. Louis Jordan, Wynonie Harris, Tiny Bradshaw e Big Jay McNelly são referências do Jump Blues. Vejo o Chicago Blues com forte presença da harmônica, da guitarra slide e formas diferentes de tocar o shuffle e ritmos lentos na bateria. Podemos dizer que o som de Chicago tem forte ligação com o Blues do Mississippi. Se analisarmos instrumento por instrumento, vamos perceber grandes diferenças de linguagem, de tempero. Na guitarra, por exemplo, temos uma grande diferença no fraseado, nos acordes, etc. Claro que encontraremos semelhanças também, afinal, é tudo Blues! Apenas se desenvolveu em regiões diferentes com características e condições diferentes. Muddy Waters, Little Walter, Sonny Boy Williamson II e Howlin´ Wolf são referências do Blues de Chicago.

UM – Atualmente considero os blueseiros brasileiros altamente capacitados, ficando atrás, é claro, apenas dos americanos. Quais as suas referências na cena brasileira? LM - Gosto demais do Fernando Noronha, Marcos Ottaviano, Maurício Sahady, Cristiano Ferreira, The Headcutters, Yuri Apsy, Rodrigo Mantovani, Gustavo Andrade, Ale Ravanello, Solon Fishbone, Netto Rockfeller, Álamo Leal, Ivan Marcio, Ari Borger... eu poderia seguir com essa lista ainda, são muitos músicos incríveis! Não posso deixar de falar do Celso Blues Boy, do Blues Etílicos e do Nuno Mindelis, que são referências para mim desde meus primeiros dias de blues. Existem músicos mais novos muito bons e um que realmente me deixa impressionado é o Enzo Baddo.


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