Entrevista Tommy Guerrero
O Coluna Blues Rock é um site medíocre... com sorte. Afinal, apesar do trabalho de qualidade questionável, de tempos em tempos consegue algumas entrevistas únicas. A mais recente com Tommy Guerrero, lenda do skate e do rock californiano.
Adepto do Do It Yourself [faça você mesmo], desde cedo, o músico viu conexões entre os mundo do skate e do punk. E, justamente, essa pegada sempre deu o tom da sua produção musical, mas nem por isso assiste passivamente ao domínio do streaming. "Eu não faço stream music (no momento) por razões específicas. É lamentável que a porcentagem paga de cada canção seja tão baixa. Para um milhão de plays você recebe algo em torno de 1100 dólares, portanto o streaming não é uma alternativa viável para músicos", desabafou.
Após o período punk, sua banda Free Beer abriu para Bad Brains, Circle Jerks e outras, Tommy buscou influências que o marcaram ao longo da vida. "Bill Withers, Bad Brains, John e Alice Coltrane, Mulatu Astaqe, Fela Kuti, Curtis Mayfield, Hendrix, Santana, Elvis Costello, The Clash, Jorge Ben e muitos outros", enumerou algumas.
Tommy Guerrero é uma daquelas figuras old school que mantêm a atitude verdadeira, sem concessão ao mercado, fiel às próprias ideias. Punk, rock, skate, Califórnia... Tem como dar errado?
Ugo Medeiros - Você é de São Francisco, uma cidade de clima quente com música excelente e diversos esportes (parece muito com o Rio de Janeiro). Você poderia falar sobre a sua infância? O que veio primeiro na sua vida, música ou skate?
Tommy Guerrero - Eu comecei no skate em 1975, a música veio em torno de 1979. O punk e o skate tinham a mesma atitude "faça você mesmo e foda-se" [DIY fuck you], portanto havia um magnetismo natural. Nós (eu, meu irmão e amigos) começamos uma banda punk, sem saber tocar, mas tínhamos o fogo e o espírito. Nós afiamos nossas habilidades na garagem do nosso apartamento e, eventualmente, criamos um set de música decente para tocar ao vivo. Tocamos de 1980 a 84 com bandas lendárias: Bad Brains, Fear, Dead Kennedys, DOA, Circle Jerks, apenas para citar algumas. Nosso último show foi em 1984 com Angry Samoans e Suicidal Tendencies. Nossa banda chamava-se Free Beer e nos separamos um pouco depois.
UM - Você fez parte da primeira geração de skatistas profissionais. Como esse esporte nasceu? Podemos dizer que era mais "puro"? Digo, antes de se tornar um negócio milionário era melhor ou como você não vê dessa forma?
TG - Eu fiz parte da segunda geração de profissionais. A primeira era formada por Alva, Peralta, Jay Adams, etc. Portanto, já havia algo de como ser um profissional do skate. Enxergo o skate em uma perspectiva individual, se as intenções da pessoa são verdadeiras então sempre será puro para eles. O dinheiro e o sucesso vêm e vão, mas o skate sempre será puro/cru. Tomar porradas/batidas sempre te manterá humilde.
UM - Como você entrou no mundo da música? Digo, quando você decidiu gravar um álbum? Você estava nervoso quando foi para o estúdio gravar Loose grooves & Bastard Blues? Você falou "sou um skatista! O que estou fazendo aqui?"?
TG - Loose Grooves foi gravado no meu quarto, sem estúdio, eu e um pequeno equipamento de gravação. Sempre gravei sozinho, e ainda faço assim. A ideia de gravar Loose Groover veio de um vídeo que fiz para a Forties, era uma pequena empresa de roupa. Eu filmei quase todo o vídeo e criei toda a música. Quando foi lançado algumas pessoas falaram que eu deveria lançar a trilha sonora. Uma delas foi Thomas Campbell. Também houve interesse de James Iavell da Mo'wax. Mas, em vez disso, eu e Thomas lançamos pelo seu selo Galaxia. Depois acabei gravando dois álbuns e um EP pela Mo'wax.
UM - Escutei a quatro dos seus discos, fiquei impressionado como eles foram melhorando mais e mais. Eu gosto demais de Soul Food Taqueria. Muito bom! Influências de vários estilos, além do rock, são bem claras. O disco teve boas críticas na época... Poderia falar sobre o álbum?
TG - Foi o meu segundo disco pela Mo'wax. Novamente toda gravação "faça você mesmo" [DIY] na minha casa e um estúdio improvisado em uma antiga garagem. Chuck Treece tocou bateria em algumas faixas. Foi gravado em uma época em que ainda se vendia discos!
UM - Lifeboats & Follies é outro disco que eu gosto! Eu sinto uma pitada de jazz. Estou exagerando?
TG - Não, sou inspirado por certos tipos de jazz, com certeza. Tem algumas faixas no disco que têm upright bass.
UM - Conheci a sua música quando "me perdi" no Youtube e ofereceram um disco do Tommy Guerrero. O que você acha da internet o mundo do download? Tipo, eu gostava de Metallica, mas quando eles processaram os criadores do Napster, eu abandonei a banda...
TG - Tudo é streaming agora. Eu não faço stream music (no momento) por razões específicas. É lamentável que a porcentagem paga de cada canção seja tão baixa. Para um milhão de plays você recebe algo em torno de 1100 dólares, portanto o streaming não é uma alternativa viável para músicos. Felizmente isso mudará. Sou grato pelo vinil ter um pequeno revival. Vendi quase quatro mil do meu último disco Road to Knowhere. Não é muito, mas o suficiente para cobrir meus custos. Se não fosse pelo vinil não tenho certeza se lançaria discos... Mas sempre farei música.
UM - Qual a sua guitarra favorita para tocar e/ou gravar? por quê?
TG - Fender Jazzmaster, nesse momento. Eu estava tocando há um tempo com a Telecaster, mas eu gosto de alternar/trocar. A Jazzmaster tem um braço mais largo que eu curto.
UM - Sei que é difícil, mas poderia falar o seu top 10 de bandas/cantores?
TG - Bill Withers, Bad Brains, John e Alice Coltrane, Mulatu Astaqe, Fela Kuti, Curtis Mayfield, Hendrix, Santana, Elvis Costello, The Clash, Jorge Ben e muitos outros.
UM - Na sua opinião, qual a canção ou artista que melhor define o mundo do skate?
TG - Lust for life do Iggy Pop.
UM - O Brasil tem bons skatistas, você deve conhecê-los. Você já passou por algo de música brasileira? Temos bastante coisa boa, samba de raiz, jazz e até bandas de hardcore...
TG - Conheço muitos skatistas brasileiros, muitos acima da média, e eu amo bossa nova. Jorge Ben é um dos meus favoritos de todos os tempos.
UM - Poderia falar sobre o seu último disco Road to knowhere?
TG - Não sei ao certo o que dizer. Eu gravei e toquei 90% do que você escuta. Minha abordagem não mudou muito, apenas o meu estilo (um pouco). Estou mais interessado em diferentes ritmos atualmente. Muitos grooves africanos... normalmente com um tipo de influência jazzística. Você pode escutar esta inspiração. Esse disco também trouxe mais pessoas para a minha música. Provavelmente o meu disco mais conhecido.
UM - No Brasil tem muita gente que curte skate e, claro, música. Gostaria de deixar a recado ao público?
TG - Eu só gostaria de dizer OBRIGADO a todos que apoiaram o que faço por todos esses anos. MUITO OBRIGADO!
ENGLISH VERSION
Ugo Medeiros - You're from San Francisco, a hot city with excelent music and many sports (It seems a lot with Rio de Janeiro, my town). Could you talk a little bit about your childhood? What did come first in you life, music or skate?
Tommy Guerrero - I starter skating in 1975 and music came around 1979. Punk and skating had the same "DIY fuck you" attitude, so there was a natural magnetism. We (me, my brother and friends) started a punk band, not really knowing how to play, but we had the fire and spirit. We honed our skills in our garage apartment and eventually we created a sets worth of music to play live shows. We played from 80-84 with a swath of legendary bands: Bad Brains, Fear, Dead Kennedys, DOA, Circle Jerks to name a few. Our last show was in 84 with the Angry Samoans and Suicidal tendencies. Our band was Free Beer. We disbanded a little while after that.
UM - You were part of the first generation of professional skateboarders. How was that sport started? Can we say it was more "pure", I mean before turning a big millionare deal was better or you do not see it that way?
TG - I was part of the 2nd wave of pro’s. 1st wave was Alva, Peralta, Jay Adams, etc. So there was a sort of template of what a pro skater was already in place. I look at skating on an individual level, if the person’s intentions are true then it will always be pure for them. The money and hype comes and goes but skating will always be raw. Taking the hits/slamming will keep you humble.
UM - How did you get into the music world? I mean, when did you decide to record an album? When you went into the studio to record the first record Loose grooves & Bastard Blues, were you nervous? Did you say "Im skateboarder! What am I doing here?"...
TG - Loose Grooves was recorded in my bedroom, no studio just, me and very little recording equipment. I have always recorded myself, and I still do. The idea to release Loose Grooves came from the Forties clothing video that I made. It was a small company that I ran out of Deluxe. I shot most of the video and created all of the music for it. When it was released there were a few different people who said that I should release the soundtrack. One of them was Thomas Campbell. There was also interest from James lavell of Mo’wax. But me and Thomas released it on his label Galaxia instead. I later did 2 albums and an ep for Mo’wax.
UM - I listened to four records. I was amazed how the albums improved more and more. I really like Soul Food Taqueria. Really good! Influences of various styles - beyond rock - are very clear. The record had good reviews at the time... Could you tell us a bit about the album?
TG - It was my 2nd Mo’Wax release. Again all very DIY recorded in my home and a make shift studio in an old garage. Chuck Treece plays drums on a few songs. It was released at a time when you could still sell records!
UM - Lifeboats & Follies is another album that I like! I feel a pinch of jazz. Im I exaggerating?
TG - No, I’m inspired by certain types of Jazz for sure. There are a couple tracks on there that have upright bass.
UM - I met your music when I lost myself on youtube and he offered me a Tommy Guerrero's record. What do you think about internet and the downloading world? [See, I liked Metallica, But when they sued the creators of Napster, I left the band...]
TG - it’s all about streaming now. I don’t stream music (at this time) for specific reasons. It’s unfortunate that the % for each song play is so little. For 1 million plays you get about $1100 usd, so streaming isn’t a viable income source for musicians. Hopefully that will change. I’m grateful that vinyl has made a small comeback. I have sold almost 4000 copies of my latest album Road To Knowhere. Not a lot but enough to cover my costs. If it weren’t for vinyl I’m not sure I’d even release albums... but I’ll always make music.
UM - What is your favorite guitar to play and/or record? Why?
TG - Fender Jazzmaster right now. I was playing a Tele for awhile. But I like to switch it up/change. The Jazzmaster has a wider neck which I dig.
UM - I know its difficult, but could you say your Top10 bands/singers?
TG - Bill Withers, Bad Brains, John Coltrane/Alice Coltrane, Mulatu Astaqe, Fela Kuti, Curtis Mayfield, Hendrix, Santana, Elvis Costello, The Clash, Jorge Ben. Plenty more though.
UM - In your opinion, which song or artist defines best this skateboarding world?
TG - Iggy Pop's Lust for life.
UM - Brazil has good skaters, you should know them. Have you ever looked for some brazilian music? We have lot of good stuff, roots samba, jazz, even hard core bands...
TG - I know a lot of Brazilian skaters, so many rippers!, and I love Bossa Nova. Jorge Ben being one of my all time favorites.
UM - Could you talk about your last álbum Road to knowhere?
TG - Not sure what to say. I recorded and played 90% of what you hear. My approach hasn’t really changed. Just my style a bit. I’m more interested in different rythms these days. A lot of African grooves... usually with some sort of Jazz influence. You can hear that inspiration. This album has also brought more people into my world of music. Probably the most known of all my albums.
UM - In Brazil there are many people who enjoy skateboarding and, of course, music. Do you Want to leave some message to the public?
TG - I’d just like to say thank you to all those who have supported what I do for all these years.
Many thanx!