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Entrevista Charley Crockett


O meu coração é todo preenchido pelo blues, o meu pulso bate como um rock'n'roll de Jerry Lee Lewis, meus pés batem ao som do jazz, ando pelas ruas com acompanhado pela solidão do folk. Mas, devo confessar, algo faltava, minha alma era triste, havia um vazio ali. Até o dia em que conheci o country - não me refiro ao estereótipo de chapéu de cowboy e botas de couro - e certos hiatos musicais foram superados e o continuum da história musical devidamente adensado. Imortais do estilo, que dentro de si possui diferentes caminhos, possibilidades, sotaque e sutilezas, como Johnny Cash, Willie Nelson, Bob Wills, Hank Williams, Merle Travis, Merle Haggard, Gary Stewart e jovens talentosos como Joshua Hedley. Todos donos de uma sonoridade própria, mas com um sentimento em comum: o amor pela simplicidade rural. Charley Crockett, um cara que incorpora como poucos o espírito ramblin' man, é um prodígio da música americana, mistura o country com blues e soul.

Um texano, desses que para tudo fala "damn alguma", que tocou pelas ruas Nova Orleans, no metrô de Nova Iorque, rodou pela Europa. Salvo pela música quando todas as probabilidades apontavam para uma juventude problemática e perdida. "Eu saí fora do sistema escolar e me meti em muitos problemas com meu irmão no Texas. Não conseguia encontrar felicidade. Minha mãe pegou um violão para mim em uma loja de penhor e, uma vez que comecei a tocar, tornou-se a resosta aos meus problemas. Uma maneira de me expressar e lidar com a tal luta", confessou Charley.

Charley Crockett é uma das maiores revelações da música americana nos últimos tempos. Sua formação musical deu-se pelas ruas e dessa forma, pelo acaso ou por força do destino, descobriu Ernest Tubb. "Quanto mais velho, mais me apaixono pelo Ernest Tubb. O Hank Williams certa vez disse ter encontrado um lugar como cantor e artista exatamente entre Ernest Tubb e Roy Acuff. Me identifico com isso. Sem nenhum treinamento para ser suave e limpo, mas com alma suficiente para se destacar".

Um rapaz que enfrentou dificuldades e desde cedo posto constantemente em prova. Sua discografia registra as diferentes fases de sua vida, cada disco uma nova era. Stolen Jewel representa o jeito despojado inerente a todo jovem, optando sempre pelo mais simples, sem enfeites, e, sobretudo, sem medo. Já Lil G.L.’s Honky Tonky Jubilee revela um Charley mais maduro e fã confesso do mestre Hank Williams.

Prestes a lançar o novo álbum Lonesome as a Shadow, Charlie traz abraçado consigo toda a boa e velha tradição. Corajoso, desperta a atenção de uma juventude acostumada - e idiotizada - a doses cavalares de informações inúteis. Como ele mesmo diz, "Não é isso que amamos no country e no blues clássicos? Música que faz você se sentir bem ao expressar tristeza".


Ugo Medeiros – Eu li uma entrevista na qual você disse "meu vocabulário é toda aquela música tradicional". Você se considera um artista de americana?


Charley Crockett - Eu não acho que eu seja um artista de americana. Eu aprendi a música tradicional ao tocar pelas ruas e trocando canções com outros artistas ao meu redor. Eu nunca pensei em americana como um gênero até conhecer a indústria do folk, ela usava essa palavra. Para mim, é um termo puramente para marketing. Eu até entendo o seu propósito e o porquê dele ser usado, mas eu não quero que me coloquem em uma categoria tão genérica. Sou country, blues e soul. Podemos chamá-la de Texas & Louisiana music ou gulf coast boogie woogie [N.E: referindo-se ao Golfo do México]!


UM – Te conheci através de uma sugestão do Spotfy, pesquisava para uma entrevista com o Joshua Hedley. Vi a sua foto e pensei "É, tá aí um cara do country", te associei imediatamente à música rural. Mas você também tem uma forte conexão com a música urbana, teve muita influência do hip-hop, certo? Quais caras você mais escutava? Como o hip-hop ajudou a moldar a sua música?


CC - Deixe-me dizer uma coisa, eu amo o que o Josh Hedley está fazendo. Ele não tem medo, ele mesmo se diz um artista de country clássico e esfrega na cara dessa música mundial moderna e confusa. Ele é um dos melhores que estão aí. Eu cresci de forma que o hip-hop foi o caminho até o blues. Isso é o bom hip-hop. Blues. Jazz também, é apenas uma outra forma de tocar... justamente o blues. As grandes corporações dominam as rádios nos EUA. Os melhores artistas de hip-hop, como Mos Def, sampleavam [N.E: pegavam trechos de outras músicas e usavam em suas próprias criações] clássicos do soul, como o início da carreira da Aretha Franklin. Eles falavam sobre os problemas reais da luta do dia-a-dia quando quase ninguém mais falava, pelo menos no mainstream. Não é isso que amamos no country e no blues clássicos? Música que faz você se sentir bem ao expressar tristeza. Lembro-me de ouvir um bagulho do Wu Tang quando estava no colégio e tinha um sample de Wendy Rene. Uma garota que eu conheci me introduziu às gravações do início da carreira de Wendy Rene pela STAX e a tenho escutado desde então. Ela é facilmente uma das minhas maiores influências. Esse é o poder do hip-hop verdadeiro e consciente. Vai te levar de volta a fonte.

UM – Você tocou pelas ruas de Nova Orleans, no metrô de Nova Iorque, em bares de beira de estrada, nas praias da Califórnia. Fale sobre essas experiências. Elas influenciaram a sua música?


CC - Ser um músico profissional, ter uma carreira, é muitas vezes a última opção, e esse foi o meu caso. Eu saí fora do sistema escolar e me meti em muitos problemas com meu irmão no Texas. Não conseguia encontrar felicidade. Minha mãe pegou um violão para mim em uma loja de penhor e, uma vez que comecei a tocar, tornou-se a resposta aos meus problemas. Uma maneira de me expressar e lidar com a tal luta. Eu comecei a tocar em parques, onde eu poderia cantar o dia inteiro sem ser expulso. As pessoas começaram a jogar dinheiro na case do meu violão e então passei gradativamente para melhores lugares. Meu tio morava em Nova Orleans e passei muito tempo lá quando criança, finalmente consegui tocar nas esquinas do French Quarter. Na Louisiana eu aprendi a pegar carona e entrei na vida de viajante. Eu aprendi quais músicas fazem dinheiro e quais não. Eu não sabia porra nenhuma sobre Hank Williams antes disso. E eles não estavam tocando Hank nas rádios! Um rapaz chamado Sal estava em uma banda de Jug band que tocava todas essas coisas antigas e, de tanto vê-lo tocar, eu acabei aprendendo My bucket’s got a hole in it. Eu não sabia que era uma melodia de Hank Williams, fui saber bem mais tarde. Um trompetista chamado Charlie Mills Jr. começou a tocar comigo e fui morar com ele. Ele me ensinou várias peças tradicionais de jazz e nós seguimos a partir dali, daquele ponto. Comecei a vestir roupas mais arrumadas para me diferenciar dos pivetes, assim os turistas não teriam medo de ficar e ouvir.

Atualmente, se você cresce na pobreza é muito difícil fazer algo na música [N.E: Music business]. É preciso muito dinheiro para morar em uma cidade grande como Nova Iorque ou Los Angeles e ter alguns shows. Você precisa de um apartamento, equipamento e uma banda cheia de pessoas que possam aparecer e ensaiar. Nunca tive isso. Tudo o que eu tinha era minha juventude e meu desejo. O negócio da música funciona como um cassino: você paga para tocar em casas que cobram entrada, mas se você não consegue trazer um público grande eles não te chamam para tocar de novo. Você literalmente perdeu dinheiro em shows como esse a toda hora. Isso é uma extorsão. Mas se você aprender a tocar por gorjetas e descobrir como manter a atenção do público, então você tem algo. Nenhum dinheiro ou regalia pode ensinar isso. Seja no metrô ou em um barzinho pelas ruas de Nashville, você precisa aprender a ficar atrás do seu violão e chamar a atenção das pessoas, senão eles não não darão a mínima para a sua presença. Bem, eu fiz isso. Eu tocava oito horas por dia em Nova Orleans. Em nova Iorque também tocava nas estações de metrô e nos vagões por pelo menos oito horas diariamente. Fiz isso por anos. Na Europa também. Então eu comecei a subir em palcos, em jams de blues em qualquer cidade que eu estivesse. São Francisco, Deep Ellum em Dallas, Austin (Texas). Nashville. Em toda parte. Às vezes, funcionava. Muitas vezes, não! Eu fiquei mais forte e perdi o medo de falhar. Uma vez que você está "ok" em cair do céu, tudo o que você faz é voar.


UM – Você se considera um ramblin' man? Ok, Ramblin' man é uma música do Allman Brothers Band, mas você poderia explicar aos brasileiros o que significa?


CC - Ramblin’ man é uma canção do Hank Williams! Claro! Ramblin' man, um homem da estrada. Um cara que canta e dança. Sou isso tudo, para bem ou mal. É a minha vida, amo a coisa de ver as cidades passando.É bem melhor do que ficar parado.


UMStolen Jewel é um disco mais crú, gravado em uma fazenda construída nos anos 1890. O disco abre com Cold hearted woman (blues), A stolen jewel é um jazz cajun. Trinity river é completamente Nova Orleans! O disco também traz I'm gonna be a wheel someday de Fats Dominos, grande versão! Poderia falar sobre o disco?


CC - Stolen Jewel foi, de fato, o meu primeiro registro depois de sair das ruas. Eu conheci muita gente da indústria musical quando tocava em Nova Iorque e assinei alguns acordos que não funcionaram. Percebi que um disco era necessário para que eu encontrasse pessoas que levassem o meu som a um público maior, que eu pudesse me orgulhar. Você pode escutar todas as minhas influências nesse disco. É um punhado de canções que eu aprendi em viagens e outras que escrevi durante ao longo da estrada. Naquele tempo eu vivia na Carolina do Norte, na fazenda. Eu tinha um contrato engatilhado, em aguardo, e eu decidi não voltar para a rua. Quando eu ouço esse álbum agora sinto a energia de um homem entrando em uma nova fase de sua vida. Eu acho que os álbuns que vieram depois são apenas eu ficando mais forte ao misturar toda essa música. Sou grato pelos amigos que se juntaram ao meu redor para fazer esse registro. É uma bela imagem de uma época.


UM – Nesse álbum você gravou duas canções do Ernest Tubb, Drivin' nails in my coffin e Walking the floor over you. Poderia falar sobre a importância dele na sua formação musical?


CC - Putz, bicho, Ernest Tubb! Em um certo momento, eu viajava com um músico/poeta/diretor chamado Shelby Hemstock e ele sacava bastante de William S. Burroughs. Eu acho que em um desses livros, Burroughs mencionou ouvir uma música de honky tonk em algum barzinho rural no Texas. Era Drivin' nails in my coffin. Burroughs odiou a música, mas fez Shelby procurá-la. Ele procurou e me mostrou. Achei uma das melhores gravações que já tinha ouvido. Quanto mais velho, mais me apaixono pelo Ernest Tubb. O Hank Williams certa vez disse ter encontrado um lugar como cantor e artista exatamente entre Ernest Tubb e Roy Acuff. Me identifico com isso. Sem nenhum treinamento para ser suave e limpo, mas com alma suficiente para se destacar. Eu farei um disco inteiro em sua homenagem algum dia porque estou sempre encontrando uma nova música dele para gravar. E não faz mal que ele seja um Texas boy também!


UM – Como é fazer uma música vintage quando todos (inclusive eu) escutam música através de aparelhos digitais? Hoje em dia todos estão ocupados e atrasados. Apenas um sentimento, acho que essa música vintage conforta a alma do ouvinte. Como se dá esse balanço entre o vintage/digital?


CC - Eu estava falando sobre esse mesmo assunto ontem à noite em Estocolmo, Suécia, antes de um show. Como alguém que passou anos lá fora vagando pelas sombras, sou muito agradecido pelas oportunidades que o mundo digital criou para artistas como eu. Se eu encontrar alguém em um café em Hamburgo, na Alemanha, e ele perceber que eu sou músico, tudo que ele precisa fazer é obter o meu nome para encontrar todo o catálogo em alguns segundos. Isso certamente supera aquela forma de ligar para gravadoras que estão na lista telefônica e tentar um selo para distribuir o seu trabalho! A tecnologia pode ser uma benção. Mas também é muito perigoso. A questão é em como a usamos. Para artistas independentes, realmente mudou tudo. Você e eu não estaríamos falando agora sem isso!

Eu acho que você está certo sobre música vintage confortar as pessoas em um mundo que ficou muito apressado. É por isso que amo a música tradicional. As coisas tornaram-se tão digitais e carentes de profundidade ou, por outro lado, todos estão tentando superar a si mesmo com letras intelectuais loucas ou produzir sessões que deveriam apenas ser simples. As pessoas gostam de experimentar. Entendi, tudo bem. O que quer que te faça levantar pela manhã, eu acho, mas a minha coisa favorita é ouvir Lightnin' Hopkins na mesa da cozinha e fumar um baseado e depois colocar um álbum da Loretta Lynn por um tempo. Talvez algum reggae bem antigo também. Não há nada na emoção humana que não possa ser encontrada em um velho LP do Sonny Boy Williamson. Será muito difícil superar os músicos daquela geração. Te digo uma coisa: nós temos jovens que aparecem nos shows e compram vinil mesmo sem terem uma vitrola. Eles vão para casa e compram uma depois! Então, eles nos ouvem primeiro no Spotify e depois nos vêem ao vivo, e ainda querem a bolachona. Eu acho isso realmente muito legal.

UMLil G.L.’s Honky Tonky Jubilee é FANTÁSTICO! Você gravou cinco canções do Hank Williams. Primeiramente, poderia falar sobre a importância dele na sua vida? Na minha humilde opinião, ele é um dos maiores compositores americanos ao lado de Louis Armstrong, Pete Seeger e Duke Ellington!


CC - Antes de Hank, a música hillbilly [N.E: Hillbilly é um termo que se refere às pessoas que residem em regiões rurais e montanhosas dos Estados Unidos, principalmente nos Apalaches e Ozarks] era apenas um gênero obscuro aos olhos da indústria musical. Eles não levavam a sério. Mesmo quando ele começou a gravar, ele era subestimado. Quando ele morreu, correram para vender todo o seu material o mais rápido possível porque eles pensavam que o Hank seria esquecido em um ano. O primeiro hit que o levou ao sucesso nacional foi Lovesick blues, uma versão de uma canção que já rodava o mundo da música há décadas. Ninguém queria que ele gravasse, achavam que era muito hillbilly e não funcionaria, mas ficou no #1 por 32 semanas. Hank começou na rua, tocou em medicine shows [N.E: evento semelhante ao circo que rodava todo o interior dos EUA. Além de grandes atrações de entretenimento, vendia-se tônicos e novidades farmacêuticas]. Então ele entrou nas estações de rádio locais vendendo farinha de trigo. Ninguém o viu chegar. Me identifico com isso. Sabe aquela gravação de I can’t get you off of my mind? Ou Six more miles? A emoção em sua voz naquelas edições é suficiente para te fazer chorar. Aposto que muitas pessoas em Nashville ficaram surpresas ao vê-lo estourar com aquela música hillbilly de dois acordes. Mas quando ele cantava aquelas músicas simples, elas atingiam as pessoas profundamente. Simplesmente não se pode ensinar isso. Você pode conhecer todas as músicas do livro, todos os licks de guitarra em cada canção de honky tonk já gravada. Você ainda precisará passar muito tempo caminhando por estradas solitárias antes de conseguir, de fato, cantar uma boa música country e acreditar em si mesmo. Hank fez tudo isso e mais um pouco. Quando estou para baixo e me sentindo incomodado, tento me lembrar do quanto duro ele teve que trabalhar. Eu também fico alerta das coisas que o mataram. Sou grato pelo caminho que ele percorreu, posso aprender com isso, ajudou muito no meu lance.


UM – Agora você poderia falar sobre o disco em si?


CC - Eu amo as suas perguntas, irmão. Eu já queria fazer um disco de country clássico há muito tempo. Porra, gostaria de gravar mil deles! Gravei com Billy Horton em seu estúdio, fora de Austin. Fiz o meu álbum In The Night (2016) lá no ano anterior e gostei muito do resultado. Então quando eu tive um pouco de dinheiro, fiz uma lista de vinte músicas e nós fizemos dezoito dessas. Jay Moeller tocou bateria e Simon Flory estava no contrabaixo acústico [N.E: upright bass]. Jay me deu o apelido "Lil 'G.L." devido ao cantor de R&B dos anos 1950 G.L. Crockett. Esses caras me ajudaram a obter os melhores honky tonkers de Austin nas sessões. Dave Biller, Nathan Fleming, T Jarrod Bonta, Brennen Leigh, Jeff Dazey, Ian Stewart. Eu gravei para mim mesmo, não sabia o que eu ia fazer com isso. Eu não esperava que a Thirty Tigers pegasse esse projeto. Isso é certeza. Eu acho que queria mostrar às pessoas o que eu poderia fazer. Hoje em dia, é moda vestir-se estilo country antigo e gravar um disco, mas poucas pessoas fazem da forma certa, acho que elas gostam da ideia da imagem ao redor da música mais do que a porra da música em si. Adoro essas gravações, vivo por elas. Tem sido muito especial a quantidade de pessoas interessadas no álbum. Ainda me surpreendo quando alguém da Escandinávia ou da América do Sul quer falar sobre o disco ou escrever uma resenha! Eu vou gravar tantos quanto eu puder. Me dá muita satisfação ao fazer essas gravações, e apenas dessa forma obtenho prazer.


UM – Você é descendente de Davy Crockett, um herói americano. Poderia explicar quem era Davy Crockett?


CC - É difícil separar o homem do mito, a Disney que o diga. Às vezes eu acho que sei quem ele era, mas é difícil dizer. Ele odiava ser chamado de Davy. Ele preferiu David e te corrigiria na lata. Ele era um homem de muitas contradições. Um escoteiro indígena que lutou pela cidade de Jackson nas Creek Wars [N.E: Conflito armado anterior à Guerra de Secessão, se estendeu do que hoje é o estado do Alabama ao Golfo do México. Uma guerra entre europeus, EUA e milícias sulistas] e, em seguida, um defensor dos direitos povos nativos e um eventual adversário dos Jacksonianos como político. Educou-se sozinho, ele era amado pelos pobres e ainda era próximo dos aristocratas. Ele cresceu para ser aniquilado pelo governo americano, já que as elites ricas chutavam os pioneiros/desbravadores de suas terras engolindo cada vez mais a fronteira. Eu acho que é assim que ele chegou ao Texas. Não tenho a certeza de que ele morreu no Alamo porque a história vende rapidamente. A Disneyficação de Davy Crockett obscurece a realidade de um homem preso na luta entre duas nações imperiais que procuram um mártir para vender opinião popular. Eu acho que a vida real do Davy pode ter sido mais interessante do que a da lenda.


UM – Eu escutei aos dois novos singles, Lil’ girl’s name e I wanna cry, que estarão no seu disco novo Lonesonee as a Shadow. Soam como aquelas bandas da virada dos anos 1950/60. Quais bandas de rock daquele período mais te influenciaram?


CC - Na real, não sei sobre bandas de rock. Chuck Berry. Magic Sam. Clifton Chenier. Johnny Cash. Jerry Lee Lewis. Lazy Lester. Slim Harpo. Wendy Rene. Loretta Lynn. Mel Tillis. Hank Williams. T Bone Walker. Sonny Boy Williamson. Lightnin’ Hopkins. Jimi Hendrix. Lavern Baker. Irma Thomas. George Jones. Fats Domino.


UM – Poderia falar sobre disco em si?


CC - Nós gravamos Lonesome as a Shadow em quatro dias na Sam Phillips Recording Service, descendo pela mesma rua da Sun Records em Memphis. Matt Ross-Spang como engenheiro de som e na co-produção comigo. Usamos a minha banda de estrada The Blue Drifters desta vez e fizemos todas as canções autorais. É country e blues com aquele soul denso de Memphis sustentando a coisa toda. Estou muito orgulhoso e acho que vai realmente impressionar as pessoas. Gravar o álbum Honky Tonk Jubilee apenas alguns meses antes realmente ajudou a juntar minhas próprias músicas e arranjá-las facilmente no estúdio. Matt é um dos caras mais legais que você encontrará e quando nos conhecemos na Sam Phillips para planejarmos o disco foi fácil para caramba. Em vez de falar, eu simplesmente me sentei e toquei cerca de 25 músicas e ele disse que estava pronto para gravar cada uma delas! E logo depois gravei, foi exatamente isso que fizemos. Eu estou contando com este álbum para que eu possa me dar um Lincoln Coupe 1971, então eu espero que as pessoas gostem tanto quanto eu.

UM – Charley, foi um imenso prazer falar contigo. Sinceramente, te considero uma das maiores revelações da música americana nos últimos tempos, sua música é maravilhosa! Ainda te verei aí nos EUA! Mande uma última mensagem!


CC - Ugo, não posso dizer o quanto isso significa para mim, você se interessou pela minha música. É um prazer responder perguntas tão pensativas, estou tão agradecido pela oportunidade. Obrigado por separar um tempo para falar comigo. Tenho certeza que vou te ver nos EUA, mas seria ainda melhor acompanhá-lo pelo seu caminho, meu irmão!



ENGLISH VERSION:


Ugo Medeiros – I read an interview in which you said “My vocabulary is all that traditional music”. Do you consider yourself as an americana artist?


Charley Crockett - I don’t think of myself as an Americana artist. I learned traditional music playing in the street and by trading songs with other artists around me. I never gave Americana thought as a genre until I met industry folks who were using that word. To me, it’s a marketing term. I understand it’s purpose and why it’s used but I just don’t want to be put into such a generic category. I’m Country, Blues and Soul. We call it Texas & Louisiana Music or that Gulf Coast Boogie Woogie! You can put pedal steel on a punk band but that don’t make it Honky Tonk.

UM – First time I read about you I was researching for Joshua Hedley’s interview, Spotfy suggested me your music. Then I saw your Picture and I thought “Yep, here it is a country guy”. At the same time I associated you to rural music. But you also have strong connection with urban music. You had a lot of hip-hop influence, right? Which artists did you listen to? How did hip-hop help you in your music?


CC - Let me just say I love what Josh Hedley is doing. He’s not afraid to stand up and call himself a straight classic country artist in the face of a confused modern music world and he’s one of the best out there. For me, growing up the way I did, Hip-Hop was my path into the blues. That’s what good hip hop is. Blues. Jazz too, which is just a way of playing...the blues. In America, corporations dominate the airwaves. Especially growing up in the 80s and 90s. The best hip hop artists like Mos Def were sampling classic soul like early Aretha Franklin and talking about real issues of struggle when most nobody else was, at least in the mainstream. Isn’t that what we love about classic country and blues? Music that makes you feel good in expressing sadness. I remember hearing a Wu Tang joint when I was in high school with a Wendy Rene sample on it. A cat I knew put me on to her early STAX recordings and I’ve been listening to her ever since. She’s easily one of my biggest influences. That’s the power of true, conscious hip hop. Its gonna bring you right back to the source.

UM – You performed in the streets of NOLA, on NY subway, in honky tonky bars, at the california’s beach. Could you talk about so much experience? Did all these situations influence you?


CC - Being a professional musician is often a career of last resort and that was the case for me. I fell out of the school system and got into a lot of trouble with my brother in Texas. I couldn’t find any happiness. My mother picked up a guitar for me at a pawn shop and once I started playing it became the answer to my problems. A way to express myself and deal with struggle. I started out by just playing in parks where I could sing all day without being run off. Folks started throwing money in my case and so I started moving to better and better spots. My uncle lived in New Orleans and id spent a lot of time there as a kid and I eventually got to playing in the French Quarter on Street corners. In Louisiana I learned to hitch hike and fell into the traveling life. I learned what songs made money and which didn’t. I didn’t know a damn thing about Hank Williams before that. They weren’t playing him on the radio! A guy named Sal was in a Jug band that played all that old stuff and I learned My Bucket’s Got A Hole In It from watching him. I didn’t know it was a Hank Sr. tune till later. A trumpet player named Charlie Mills Jr. started playing with me and I moved in with him. He taught me several traditional jazz numbers and then we took it from there. I started dressing in classic clothes to separate myself from the dirtier Street kids so that the tourists wouldn’t be afraid to stay and listen.

If you grow up poor it’s very difficult to make it in the music business these days. It takes a lot of money to live in a big city like NYC or LA and get gigs. You need an apartment and music equipment and a band full of people who can show up and practice. I never had that. All I had was my youth and my desire. The music business is set up like a casino. You pay to play at entry level venues and if you can’t draw a crowd they don’t invite you back. You literally lost money at shows like that every damn time. That’s a racket. But if you learn to play for tips and figure out what works to keep a crowds attention, then you’ve got something. No amount of money or privilege can teach that. Whether it’s on the subway or in a Honky Tonk on broadway in Nashville, you’ve got to learn how to stand behind your guitar and get people’s attention who otherwise don’t give a damn that you’re even there. Well I did that. I played 8 hours a day in New Orleans. Then at least as much everyday in New York on the subway and then in the Subway cars. I did that for years. In Europe too. Then I started pushing my way on to stages at blues jams in whatever city I was in. San Francisco, Deep Ellum in Dallas, Austin, TX. Nashville. Everywhere. Sometimes it worked. Often times it didn’t! I got stronger and I lost the fear of failing. Once you’re ok with falling out of the sky, all you do is fly.


UM – Do you consider yourself as a ramblin’ man? Ok, Ramblin’ man it’s a Allman Bros song, but could you explain to brazilians whats does that mean?


CC - Ramblin’ man is a Hank Williams song! Ya sure. Ramblin’ man, highway man, drifter. Song and dance man. I’m all those things, for better or worse. It’s my life and I love to see the towns just passing by. It’s a lot better than standing still.


UMA Stolen Jewel is a raw record, recorded in a farmhouse built in the 1890s. The album opens with Cold Hearted Woman (blues), A Stolen Jewel is a cajun jazz. Trinity River is completely NOLA! The album also brings Fats Dominos’s Im gonna be Wheel Someday, great version! Could you talk about the album?


CC - Stolen Jewel was the first real record I put together after coming off the street. I met a lot of industry people playing in NYC and signed some deals that didn’t work out. I realized I needed to record myself if I wanted to find people that could help me get my sound out to a larger audience that I could be proud of. You can hear my influences all over that album. It’s a bunch of songs I learned by traveling and the originals I wrote along the way. I was living in Northern California at the time out on the farm. I had a contract to wait out and I made up my mind not to go back to the Street. When I hear that album now it has the energy of a man entering a new part of his life. I think the albums that Have followed are just me getting stronger at mixing all that music together. I’m grateful for the friends that came together around me to make that record. It’s a beautiful picture in time.


UM – In that album you also recorded two Ernest Tubb’s song: Drivin' Nails in my Coffin e Walking the floor over you. Could you talk about Ernest Tubb in your musical formation?


CC - Ahh man Ernest Tubb! I was traveling with a musician/poet/filmmaker named Shelby Hemstock at one point and he was really into William S. Burroughs. I guess in one of those books Burroughs mentioned hearing a Honky Tonk song in some whole in the wall bar in rural Texas. It was Drivin’ nails in my coffin. Burroughs hated the song which made shelby wanna look it up. He did, and showed me. I thought it was one of the best damn recordings I’ve ever heard. The older I get the more I fall in love with Ernest Tubb. I remember Hank said he’d found himself a place right in between Ernest Tubb and Roy Acuff as a singer and performer. I can relate to that. Too untrained to be smooth and clean but enough soul to stand out. I’m gonna do a whole ET tribute record one of these days because I’m always finding a new song of his to record. It don’t hurt that he’s a Texas boy too!


UM – How is to make vintage music when everybody (included me) listen to music through digital devices? Nowadays everybody is Always busy, everybody is late. Its just a feeling, but I think vintage music comforts the soul. How does that balance between vintage/digital work?


CC - I was just talking about this same thing last night in Stockholm, Sweden before a show. As somebody who’s spent years out there wandering around in the shadows I’m damn grateful for the opportunities that the digital world has created for artists like me. If I meet somebody in a cafe in Hamburg, Germany and they realize I’m a musician, all they need to do is get my name and they can find my whole catalogue in a few seconds. That sure beats dialing up records labels in the phone book trying to get a label to distribute you!!! Technology can be a blessing. Its really damn dangerous too. It’s all in how we use it. For independent artists, it really has changed everything. You and I wouldn’t be talking right now without it!

I think you’re right about vintage music comforting folks in a world that’s gotten itself in a big damn hurry. That’s why I love classic music. Things have become so digital and lacking in depth or on the other end everyone’s out there trying to outsmart themselves writing these crazy intellectual songs or over producing sessions that really just need to be kept simple. People like to experiment though. I get it. That’s alright. Whatever gets you up in the morning I guess, but my favorite thing to do is listen to Lightnin’ Hopkins at my kitchen table and smoke a damn joint and then put on a Loretta Lynn album for a while. Maybe some early reggae too. There ain’t nothin in the human emotion that can’t be found on an old Sonny Boy Williamson LP. It’ll be awfully hard to out do the musicians from that generation. I’ll tell you this. We have young people at shows that come up and buy vinyl who don’t even own record players yet. They go home and buy one later! So they first hear us on Spotify and then see us live and wanna soon that wax. I think that’s really really cool.


UMLil G.L.’s Honky Tonky Jubilee is FANTASTIC, is full of classics! First, you recorded five Hank Williams songs. Could you talk about his influence in your life? In my opinion he is one of the biggest american composer along Louis Armstrong, Pete Seeger and Duke Ellington!


CC - Before Hank, hillbilly Music was just an obscure genre in the eyes of the recording industry. They didn’t take it serious. Even when he started recording he was under estimated. When he died they rushed to get all his material out as fast as possible because they thought he’d be forgotten in a year. The first hit he had that carried him over into national success was “Lovesick Blues” which was a cover that had been around for decades. Nobody wanted him to record it. They just thought it was too hillbilly and wouldn’t work, but it stayed at #1 for 32 weeks. Hank started out in the street. He played the medicine shows. Then he got on the local radio stations selling baking flour. Nobody saw him comin’. I can relate to that. Do you know that recording of his I can’t get you off of my mind? Or Six more miles? The emotion in his voice on those cuts is enough to make you cry. I bet a lot of folks in Nashville were surprised to see him rise like he did with that 2 chord hillbilly music. But when he sang those simple songs they hit people deep. You just can’t teach that. You can know every song in the book. Every guitar lick on every damn Honky Tonk song ever cut. You still gotta spend a lot of time walking down lonesome roads before you can really sing a good country song and make believe you. Hank did all that and then some. I try to remember how hard he had to work when I’m down and out and feeling out matched. I also keep aware of the things that killed him. I’m grateful for the path he walked and that I can learn from it. It’s helped me out a whole lot on mine.


UM – Now, could you talk about the album itself?


CC - I love your dang questions my brother. I’d been wanting to cut a classic country record for a long time. Hell, I’d like to cut a thousand of them. I did it with Billy Horton at his place outside Austin, TX. I cut my 2016 album In The Night over there the year before and I really liked how it turned out so when I had a little money I made a list of 20 songs and we cut 18 of them. Jay Moeller played drums and Simon Flory was on upright bass. Jay gave me my nick name “Lil’ G.L.” after the 50s R&B singer G.L. Crockett. Those boys helped me get Austin’s finest Honky Tonkers in on the session. Dave Biller, Nathan Fleming, T Jarrod Bonta, Brennen Leigh, Jeff Dazey, Ian Stewart. I cut it for myself really. I didn’t know what I was gonna do with it. I didn’t expect Thirty Tigers to pick it up. That’s for sure. I guess I did want to show people what I could do. It’s trendy these days to dress up old time country style and cut a record, but not a lot of folks are really doing it right and I think that’s because they like the idea of the image around the music more than the dang Music itself. I love these recordings. I live by them. It’s been really special to have so many people take interest in the album. I still get really surprised when someone reaches out from Scandinavia or South America wanting to talk about it or write a review! I’m gonna cut as many of them as I can. I get a satisfaction from making these recordings I just can’t get any other way.


UM – You are descendant of Davy Crockett, an american hero. Could you explain who was Davy Crockett?


CC - It’s hard to separate the man from the myth. Disney’s made sure of that. Sometimes I think I know who he was but it’s hard to say. He hated to be called Davy. He preferred David and would correct you on the spot. He was a man of many contradictions. An Indian scout for Jackson in the Creek Wars and then an advocate for native rights and an eventual opponent of the Jacksonian's as a politician. Self educated, he was loved by the poor and yet rubbed shoulders with the aristocrats. He grew to be dissolutioned by The American government as wealthy elites swindled pioneers out of their land swallowing up the ever expanding frontier. I think that’s how he got to Texas. I’m not sure he died at The Alamo for the cause that history sells so readily. The Disneyficafion of Davy Crockett obscures the reality of a man caught in the fight between two imperial nations looking for a martyr to sell popular opinion. I think the real life Davy may have been more interesting the legend.


UM – I listen to your two singles (Lil’ Girl’s Name and I wanna cry) that will be on your new album, Lonesome as a Shadow. Its sound like those bands of the turn of the years 50/60. First, Which rock bands from that period influenced you the most?


CC - I don’t know about rock bands really. Chuck Berry. Magic Sam. Clifton Chenier. Johnny Cash. Jerry Lee Lewis. Lazy Lester. Slim Harpo. Wendy Rene. Loretta Lynn. Mel Tillis. Hank Sr. T Bone Walker. Sonny Boy Williamson. Lightnin’ Hopkins. Jimi Hendrix. Lavern Baker. Irma Thomas. George Jones. Fats Domino.


UM – Could you talk about Lonesome as a Shadow album?


CC - We cut Lonesome As A Shadow love to tape in 4 days at Sam Phillips Recording Service right down the street from Sun in Memphis. Matt Ross-Spang engineered and co-produced it with me. We used my road band “The Blue Drifters” this time around and did all originals. It’s country and blues with that damp Memphis soul holding it all together. I’m really proud of it and I think it’s gonna really knock people out. Recording the Honky Tonk Jubilee album just a few months before really helped me bring my own songs together and arrange them easily in the studio. Matt is one of the coolest cats you’ll ever come across and when we met at Sam Phillips to talk about doing the record together it was easy as pie. Instead of talking, I just sat down and played him 25 songs or so and he said he was ready to cut every one of them! The next time I rolled through, that’s exactly what we did. I’m counting on this album so I can get me a 71’ Lincoln Coupe so i sure hope folks like it as much as I do.


UM – Charley, It was a great pleasure talking to you. Sincerely, I consider you one of the greatest revelations of American music in recent years, your music is wonderful! I'll still see you in USA! Send your message to the Brazilians!


CC - Ugo, I can’t tell you how much it means to me that you’ve taken an interest in my music. It’s a pleasure to respond to such thoughtful questions and I’m just so damn grateful for the opportunity. Thank you for taking the time to speak with me. I’m sure I’ll see you in the US but it’d be even better to catch up with you down your way my brother!



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