Entrevista Anders Osborne
Ele é da terra do Ibrahimovic, mas não é jogador de futebol nem um atleta olímpico. É músico, mas não possui nenhuma semelhança com o Abba - ainda bem. Anders Osborne rodou o mundo e acabou em Nova Orleans, a Meca musical, cidade na qual foi acolhido e sua música se desenvolveu. "Nova Orleans sempre foi boa para mim. É fácil tocar em diversos lugares ao redor do mundo desde que você seja você mesmo. Nunca me considerei um "bluesman", nunca foi o meu objetivo simular/evocar os bluesmen originais. Apenas toco as minhas canções de acordo com o meu coração e a minha visão criativa".
Anders é atualmente um guitarrista respeitado, um compositor de mão-cheia e um produtor extremamente competente. Diversos discos e parcerias que invejariam qualquer americano, como no disco Living Room, que conta com o grande Keb' 'Mo. "Living Room foi o meu primeiro disco depois de uma separação e um período em melancolia. Eu estava um pouco mais introvertido do que os três anteriores. Keb' e eu nos conhecemos quando ambos gravávamos na Sony/Okeh Records em 1995. Escrevemos algumas canções juntos e gravamos algumas vezes".
O sueco radicado no berço do jazz também falou sobre o problema com as drogas e a superação, além do projeto The Voice of The Wetlands All-Stars, que envolve música e alertas ambientais. Uma entrevista sincera como poucas com um músico marcado pela honestidade e pelas boas escolhas criativas.
Ugo Medeiros – Você é sueco e viveu por lá até os seus dezoito anos, mais ou menos. É interessante porque o blues é americano, claro, mas é um estilo completamente assimilado pelos europeus, especialmente pelos holandeses e suecos. Você acha que o blues tornou-se uma das bases da música europeia?
Anders Osborne - Não necessariamente, mas acho que todo o rock'n'roll pode rastrear as origens da música acústica e do blues elétrico, que vêm desde o delta do Mississippi até Chicago.
UM – Por volta dos seus dezessete ou dezoito anos você rodou o mundo, ao melhor estilo Jack Kerouac em On the Road. Você provavelmente passou por diversas experiências culturais incríveis. Você conheceu quais países? Tanta viagem influenciou a sua música?
AO - Tive muitas experiências culturais, muitas pessoas maravilhosas e diversos países. Amei tudo e todos e acredito que isso me inspirou bastante para trilhar todo esse caminho até os dias de hoje.
UM – Quando você decidiu se mudar para os EUA? Viver em Nova Orleans ajudou na adaptação? Digo, a cidade sempre foi um grande centro migratório, uma enorme tradição, pessoas de todo canto do mundo desembarcando na cidade...
AO - Vim para Nova Orleans em 1986, depois de conhecer uma pessoa que se tornou amigo em Dubrovnik. Viajamos juntos por um tempo. Um ano depois decidi visitá-lo e desde então tornou-se e minha casa. Eu também tenho alguns parentes distantes ao sul da Louisiana.
UM – Como foi o início na cena musical de Nova Orleans sendo um estrangeiro? Rolou algum preconceito tipo "Tá de sacanagem, um bluesman sueco?" ou você foi bem recebido?
AO - Nova Orleans sempre foi boa para mim. É fácil tocar em diversos lugares ao redor do mundo desde que você seja você mesmo. Nunca me considerei um "bluesman", nunca foi o meu objetivo simular/evocar os bluesmen originais. Apenas toco as minhas canções de acordo com o meu coração e a minha visão criativa.
UM - No início você usava uma afinação típica para tocar slide na guitarra base, Open D. Quem te influenciou nesse estilo?
AO - Peguei essa ideia da Joni Mitchell.
UM – Break the Chain foi o seu primeiro álbum e trouxe algo do funk de Nova Orleans. Ok, o blues é a base de toda a música americana, mas como foi chegar/viver na cidade do funk?
AO - Break the chain foi o meu segundo álbum. O meu primeiro foi Doin' Fine, gravado em 1989 pela Rabadash Records fora de Nova Orleans. O funk está em todo lugar, você só tem que deixá-lo te impregnar!
UM – Living Room foi um disco bem mais maduro. Ótimas faixas como Jetstream, Two times, Greasey money e Highway. Poucas vezes escutei um disco finalizar tão bem como em That's all! É um disco bem relaxado! O Keb' 'Mo participou e depois, anos mais tarde, excursionou contigo. Poderia falar sobre o disco e a parceria/amizade com o Keb' 'Mo?
AO - Living Room foi o meu primeiro disco depois de uma separação e um período em melancolia. Eu estava um pouco mais introvertido do que os três anteriores. Keb' e eu nos conhecemos quando ambos gravávamos na Sony/Okeh Records em 1995. Escrevemos algumas canções juntos e gravamos algumas vezes. Sempre adorei a música dele, ele é um cara muito afetuoso e um ser humano muito inteligente.
UM – Cara, Ash Wednesday Blues é MUITO BOM! Stuck on my baby é uma ótima peça! Kiddin me e Life is strange também são ótimas! Poderia falar sobre o disco?
AO - Gravá-lo foi uma bela bagunça, foi bem divertido gravar aquelas canções. O pessoal que participou foi excepcional: Kirk Joseph, Tim Green, Kevin O’fay, Johnny Lang, Davell Crawford, Cyril Neville, Leon Medica, Richard Dodd, Warren Dewey, Keb Mo. Tudo gravado ao vivo, muita energia.
UM – Eu li sobre o seu problema com as drogas. Acredito que tenha sido bem difícil. Por favor, sinta-se à vontade para responder ou não...
AO - Sim, foi realmente desafiador ficar sóbrio nessa cena de música ao vivo, mas eu não tinha escolha. Meu tempo acabara. Ou parava... Ou é isso!
UM – Você tocou (a ainda toca) bastante com o Tab Benoit e também produziu um disco dele. Poderia falar ele?
AO - Tab é tremendamente talentoso, bem orgânico e verdadeiro com a sua tradição. Canta para caralho!
UM – American Patchwork foi o seu primeiro disco pela Alligator Records. Você considera como um marco na sua carreira? Você já estava recuperado das drogas, certo? On the road to Charlie Parker é excelente, Got your heart traz uma pegada mais reggae, Darkness at the bottom tem riffs bem pesados. Standing with angels é como um agradecimento? Ótimo disco! Poderia falar sobre o álbum?
AO - Foi a minha primeira tentativa após me recuperar das drogas e do álcool, portanto foi um pouco diferente para mim. As canções refletiram mais essa jornada e um time de músicos diferentes. Pepper Keenan (Down, Corrosion of conformity) e eu trabalhamos em alguma coisa na produção e Stanton Moore e eu curtimos em tocar e produzir a maior parte do álbum. Foi feito em Bogalusa no Studio in the Country.
UM – Você também tocou com Toots and The Maytals? Incrível! Como vocês se conheceram?
AO - Nos conhecemos em um cruzeiro musical em 2013. Sentei-me com ele, então ele me convidou para fazer uma turnê com sua banda. Foi demais.
UM – Black Eye Galaxy talvez seja um dos meus favoritos. Mind of junkie e Black eye galaxy são ambas viagens psicodélicas blueseiras. Black tar é heavy metal!
AO - Obrigado, eu também adoro esse disco!
UM – Cara, eu amo a capa do disco Peace! Ideia sua?
AO - Foi! UM - Você também gravou com o North Mississippi All-Stars, Freedom & Dreams, na minha opinião uma das bandas de blues mais originais de todos os tempos! Poderia falar sobre os irmãos Dickinson?
AO - Eles são fantástico! Somos como irmãos de sangue. Eles têm uma onda só deles, me diverti demais por fazer parte.
UM - The Voice of The Wetlands All-Stars é um projeto musical e ambiental, certo? Poderia explicá-lo?
AO - Foi criado pelo Tab e seu empresário. Eles juntaram um monte de artistas de Nova Orleans a fim de alertar sobre a rápida erosão dos pântanos e das encostas. Tudo isso pode ser prevenido com as ações corretas. Visite o site "save the wetlands" e se informe mais sobre a situação e sobre como você e seus leitores podem ajudar. Leia sobre como as nossas terras sofrem com as indústrias petrolífera e naval.
UM - Derek Trucks e Susan Tedeschi te convidaram para um concerto em homenagem a Joe Cocker Mad Dogs & Englishmen. Como surgiu esse convite?
AO - Não sei ao certo, mas recebi um convite do Derek e, claro, respondi que sim. Foi uma grande honra.
UM – Poderia falar sobre o seu último disco, Flower Box?
AO - Flower Box é um álbum que sempre quis fazer. Apenas quatro músicos para um disco de rock'n'roll, duas guitarras, baixo, bateria e alguma harmonia de fundo. As letras falam, sobretudo, sobre como superar as coisas ao dizer adeus à velhas amarguras e ressentimentos.
ENGLISH VERSION:
Ugo Medeiros – You’re swedish and lived there untill you were 17/18 years old. That’s interesting because blues is american, of course, but the style was completely assimilated by europeans, especially dutch and swedish people. Do think blues became one of the bases of european music?
Anders Osborne - Not necessarily, but I do think that all rock n roll can trace it’s beginnings to early acoustic and electric blues music coming out of the Mississippi delta all the way up to Chicago. UM – When you were 17/18 years old you traveled around the world, Jack Kerouac On the Road’s style. You must have had so many cultural experiences. Which country did you know? Did All these travels influence your music?
AO - I experienced a lot of different cultures and many beautiful people and countries. I loved them all and believe they gave me lots of inspiration that has lasted all the way up till today. UM – When did you decide to move to US? Living in NOLA helped in adaptation? I mean the city Always had a migration’s traditions, people from all the world...
AO - I came to New Orleans 1986, after meeting someone that became my friend in Dubrovnik. We traveled together for some time. Then a year later I decided to go visit him. It has been my home ever since. I also had some distant relatives in south Louisiana. UM – How was the beinning in NOLA musical scene being a Foreigner? Was there a prejudice/preconception like “Are you kidding me, a swedish bluesman?” or were you well received?
AO - New Orleans has always been great. It’s easy to play music most places around the world, as long as you are yourself. I have never considered myself a “Bluesman” it is not my business to emulate the originators. I just play my songs according to my heart and my creative vision. UM - You began playing in Open D tuning, a style perfect to slide base guitar. Who influenced you on this style?
AO - I picked up the idea from Joni Mitchell. UM – Break the Chain was your first full álbum and it brought some NOLA’s funk. Ok, blues is basis of all american music, but how was living in the city of funk?
AO - Break the chain was my second album. The first one was called Doin fine released 1989 on Rabadash records out of New Orleans. Funk is everywhere you just got to stink it up yo self! UM – Your Living Room álbum was more mature. Good tracks like Jetstream, Two times, Greasey money, Highway. Few times I have seen a disc finish as well as in Thats All! Its a “chilled out” álbum! Keb Mo participated and a few years later you two toured together. Could you talk about the álbum and about Keb Mo friendship/partnership?
AO - Living room was my first recording after a breakup and some heartache. It was a little more introverted than the previous three records. Keb and I meet when we were both recording on Sony/Okeh records back in. 1995. We wrote some songs together and recorded a few times. I have always loved Keb’s music and he is a very warm and intelligent human being. UM – Man, Ash Wednesday Blues álbum is REALLY good! Stuck On My Baby is a great piece! Kiddin Me and Life is Strange are great too! Could you talk about the record?
AO - It was as a great mess making it and lots of fun playing those songs. The personnel on the record are all outstanding. Kirk Joseph, Tim Green, Kevin O’fay, Johnny Lang, Davell Crawford, Cyril Neville, Leon Medica, Richard Dodd, Warren Dewey, Keb Mo. It’s all done Live in the studio. Lots of energy. UM – I read about your problems with drugs. I think it must have been very difficult... [Please feel to respond or not. I also used to use a lot of drugs]
AO - Yes, it’s very challenging to stay sober in the live music scene. But I had no choice. My time was up. Quit or, that’s it! UM – You played (and still play) a lot with Tab Benoit. You also produced his álbum. Could you talk about Tab Benoit’s music?
AO - Tab is a tremendous talent, very organic and true to his heritage. Sings his ass off! UM – American Patchwork was your first Alligator’s álbum. Do you consider as a turning point on your carrer? You were recovered from drugs, right? On the road to Charlie Parker is excellent, Got your heart brings some reggae, Darkness at the bottom has heavy riffs. Standing with angels is more like a thanks? Great álbum! Could you talk about the álbum?
AO - It was my first attempt after recovery from drugs and alcohol. So that was a little different for me. The songs were more reflective of that journey and of a different cast of musicians. Pepper Keenan (Down, Corrosion of conformity) and I worked on some of the production and Stanton Moore and I really enjoyed playing and producing most of that album. It was done in Bogalusa at “Studio in the Country”. UM – You also played with Toots and The Maytals? Indredible! How did you met him?
AO - We met on Jam cruise back in 2013. I sat in with him then he invited me to tour with his band. It was great. UM – Black Eye Galaxy, Maybe one of my favorites. Mind of a Junkie and Black Eye Galaxy are both psychedelic blues trips! Black Tar is heavy metal!
AO - Thank you. I love that album too. :) UM – Man, I love Peace álbum cover! Was it your ideia?
AO - Tes it was. UM - You also recorded with North Mississippi All-Stars (Freedom & Dreams), in my opinion one of the most original blues bands ever! Could you talk about Dickinson Brothers?
AO - They are fantastic! We are like blood brothers. They have a unique thing going and it’s lots of fun being part of it. UM - The Voice Of The Wetlands All-Stars is it an environmental/musical project? Could you explain?
AO - It was founded by Tab and his manager. They put a bunch of Louisiana artists together forming a band to bring awareness to our rapidly eroding wetlands and coastline. It can all be prevented with the right action taken. Please go to “save the wetlands” website for detailed information on what you and your readers can do to help and read up on the effects the oil and shipyard industry has on our land. UM - Derek Trucks and Susan Tedeschi invited you for a memorial concert to honor Joe Cocker Mad Dogs & Englishmen. How did this invitation come about?
AO - I’m not sure, but I received an invitation from Derek and I said yes. It was quite an honor. UM – Could you talk about yous last álbum Flower Box?
AO - Flower Box was an album I have been wanting to make for a long long time. Just that simple four piece rock ‘n’ roll record. Two electric guitars, bass, drums and some background harmonies. The songs were mainly about moving on saying goodbye to old bitterness and resentments.