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Entrevista Fernando Noronha


Fernando Noronha é um dinossauro do blues gaúcho. Na estrada (e na batalha) desde 1997, quando estreiou com o disco Swamp Blues, o guitarrista já excursionou pelos EUA, Canadá, Europa e rodou por todo o Brasil, sempre ao lado da inseparável Fender Stratocaster.

O último disco, de 2015, Time Keeps Rolling, é um trabalho consistente, uma prova que o músico possui uma assinatura própria. "(...) Ele tem uma veia mais soul e mais atenção às composições, em detrimento de longos solos de guitarra. Mesmo assim, solo é o que não falta (rs). Acho que a maturidade traz isso, sim. Tentar dizer mais com menos", diz Fernando.

Após 21 anos de muita música, muito festival, muitas parcerias e jams, momentos únicos, como abrir para Carlos Santana, Jimmy King, BB King e Buddy Guy. Entretanto sempre há "O" momento inesquecível e nas palavras do próprio, "Agora, a abertura para o rei do rock Chuck Berry foi a que mais me marcou. Ele me recebeu no camarim e tive a chance de beijar a mão do rock!".

Fernando Noronha é um grande guitarrista de blues-rock (e soul!), escutar a sua discografia é uma obrigação aos que gostam do instrumento de seis cordas. Muito blues e rock'n'roll, dê o play e curta sem moderação!


Ugo Medeiros – O seu último disco Time Keeps Rolling é muito bom. Falarei sobre o disco especificamente mais à frente, mas, agora, gostaria de fazer um exercício de memória, ou autoavaliação. Comparando o seu primeiro disco, Swamp Blues de 1997, e esse último de 2015. O que você acha que mudou, tanto na música como no Fernando? Por exemplo, atualmente você escuta estilos/músicos diferentes daquela época?


Fernando Noronha - Sim, muita coisa mudou de lá para cá. A grande diferençam eu diria, é o vocabulário, que vai acumulando com o passar do tempo. Isso abre novos caminhos melódicos e possibilita diferentes abordagens. Ao meu ver, um disco é o reflexo de um determinado momento. Então é muito natural essa distância do primeiro disco. Sigo estudando e buscando novas sonoridades, e depois de 21 anos tenho a mesma motivação de duas décadas atrás. Quanto às influências, meus heróis são eternos e continuam os mesmos, mas gosto muito de pesquisar artistas pouco conhecidos, mas nem por isso menos geniais. Tenho garimpado as décadas de 1930, 40, 50 e 60 e encontrado pérolas como Mississipi John Hurt, Blind Willie McTell, Brook Benton, Willie Harper, Snooks Eaglin, Pearcy Mayfield e Johnny Guitar Watson, para citar alguns.


UM – Agora, falemos especificamente sobre o disco. Tem uma levada mais funk, achei ele menos “frenético”. Em momentos que viriam uma mega solo de guitarra, você respirou e tocou com a banda, acho isso legal. Credito isso à maturidade musical. O disco é muito bom, minha faixa favorita é Living with the blues, mas claro que há outros destaques como Blow it back (abre o disco) e My own way. Você poderia falar sobre o disco?


FN - Que bom que gostastes! Sim, ele tem uma veia mais soul e mais atenção às composições, em detrimento de longos solos de guitarra. Mesmo assim, solo é o que não falta (rs). Acho que a maturidade traz isso, sim. Tentar dizer mais com menos. E buscar sempre aquela sonoridade mágica. Acredito que dessa maneira fica mais clara, a história que um solo deve contar. A entrada do baixista Edu Meireles também possibilitou um caminho mais soul. Gravado em Porto Alegre, no StudioRock, com a engenharia musical do Mestre Paulo Arcari, o disco contou com Ronnie Martinez na batera, Edu no baixo e Luciano Leães nos pianos e assinando a produção musical pela segunda vez. Lançado no Brasil, Europa e USA pela gravadora americana Worldhaus Music, Time Keeps Rolling traz treze músicas originais e também a participação especialíssima do guitarrista Gabriel Guedes.


UM – Uma música me chamou atenção, Invitation to Ron Wood. O quanto os Rolling Stones influenciaram na sua formação musical?


FN - Influenciaram bastante! Cresci escutando, juntamente com as clássicas bandas de rock dos anos 1960 e 70.


UM – Você toca com um cara que conheci há pouco tempo e já tenho muita estima, Luciano Leães. O considero uma das maiores revelações do blues brasileiro, talvez o único que faça uma levada apimentada ao melhor estilo “gumbo” Nova Orleans. Você poderia falar sobre ele?


FN - Claro! É um prazer falar dessa velha que considero como um irmão. Tocamos juntos há dezessete anos e já passamos por poucas e boas na estrada. Ele sempre foi muito dedicado e incansável. Quando se junta esses ingredientes a um talento enorme, você tem um Luciano Leães! Sinto que tenho muita sorte de poder tocar com ele, assim como os parceiros e soul brothers da Black Soul , Ronnie Martinez e Edu Meireles!


UM – Você poderia falar sobre sobre a cozinha do Black Soul, Ronie Martinez (bateria) e Edu Meirelles (baixo)?


FN - Sim! Essa cozinha sempre tem cheiro bom (rs)! Como falei antes, tenho muita sorte de tocar com esses caras. Ronnie é um mestre das batidas e tem uma clínica de bateria em Porto Alegre. Tem mais de duas décadas de estrada com diversas bandas e artistas. Já está há treze anos na Black Soul. Edu Meireles, que está se lançando em carreira solo também, está há quatro anos. Sei que sou suspeito pra falar, mas a interação dos dois é mágica!


UM – Como era a cena de blues gaúcha quando você começou a dar os primeiros passos na guitarra? Digo, você teve alguma referência, artista, aí da região que tenha te ajudado/influenciado? Comparando a cena de blues hoje e antigamente, houve um crescimento ou continua basicamente com a mesma intensidade?


FN - A cena de Blues no começo dos anos 1990 era relativamente nova em Porto Alegre, porém muito vibrante. Solon Fishbone y Los Cobras, The Bluesmakers e Echos do Mississipi foram as bandas locais mais influentes. Faziam shows que deixavam a minha geração (um pouco mais nova) de queixo caído! Solon Fishbone foi meu professor a partir de 1993 e produziu meu primeiro álbum em 1997. Desde então a cena cresceu significativamente. Hoje existem muitas bandas competentes e muitos festivais pelo país.


UM – Na linha da última pergunta, a cena de rock em Porto Alegre cresceu demais nos últimos dez anos. Atualmente recebe mais shows de rock internacionais que o Rio de Janeiro, que tem diminuído claramente o público de rock. Essa cena rock mais "azeitada" e em expansão reflete, ainda que indiretamente, no blues?


FN - A cena de rock no sul sempre foi forte e com muita personalidade. Isso refletiu na cena do blues desde o começo, pois sempre esteve presente. E hoje mais ainda. Uma cena alimenta a outra. Como disse Muddy Waters, "O blues teve um filho e o chamaram de rock n roll"!


UM – Você é um cara apaixonado pela Stratocaster, podemos dizer que é o relacionamento mais duradouro da sua vida, né (rs)?! Como ela se encaixa na sua personalidade musical? Você tem uma que é bem surrada, já descascando, bem ao estilo Stevie Ray Vaughan, a acho LINDA! Poderia falar dela?


FN - Sim, é a minha cachaça (rs)! Adoro Stratocasters! Desde o design até o som. Tenho uma antiga 1963 Sunburst, que consegui em 94 em Los Angeles. Braço bem gordo e um som especial. Mas recentemente tenho tocado com as Guitar Garage, feitas à mão por Solon Fishbone. Madeira de araucária, captadores GG e todas as peças da All Parts. Essas guitarras são tão boas ou melhores que as Fender atuais.


UM – Você já fez diversas turnês pelos EUA e Europa. Qual momento foi o mais marcante? Já passou por algum perrengue ou alguma passagem mais engraçada (ou que ao menos, hoje você ria)?


FN - Sim, fizemos onze turnês pela Europa, duas pelos EUA, duas no Canadá, três pela América Latina e inúmeras dentro do Brasil. Mas os momentos mais marcantes aconteceram em casa (Porto Alegre), abrindo para os mestres eternos B.B King, Chuck Berry e Buddy Guy.


UM – Você já dividiu o palco com muita gente boa, poderia citar rapidamente os nomes mais relevantes? Qual foi aquela participação que de tão mágica ainda volta em sonhos?


FN - Foram muitos momentos marcantes, dividindo o palco ou abrindo para artistas como Celso Blues Boy, Luíz Carlini, Jeff Healey, Coco Montoya, Eric Burdon, Chris Duarte, Jimmy King, Phil Guy, Carlos Santana, Judas Priest, Ron Levy, Holland K. Smith, Miguel Botafogo, entre outros. Agora, a abertura para o rei do rock Chuck Berry foi a que mais me marcou. Ele me recebeu no camarim e tive a chance de beijar a mão do rock!


UM – Os leitores adoram - e esse editor cretino dá boas risadas - aquelas perguntas bate-volta, portanto, vamos lá?


1) Stevie Ray Vaughan ou Jimi Hendrix? Os Dois!

2) Rolling stones ou Credence? Rolling Stones

3) Se você não pudesse mais tocar com a Stratocaster, quem seria a substituta: Telecaster ou Les Paul? TeleCaster

4) Johniie Winter ou Duane Allman? Os Dois!

5) Alvin Lee ou Rory Gallagher? Os Dois!

6) The Who ou Ramones? The Who

7) Se pudesse escolher alguém para tocar hoje, quem seria: Buddy Guy ou Eric Clapton? Buddy Guy


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