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Entrevista Joshua Hedley


O Coluna Blue Rock largou há tempos o radicalismo e quebrou com a exclusividade do blues e do rock. As portas foram escancaradas para todos os estilos que formam a identidade americana. E o country não pode ficar de fora, é um dos gêneros primordiais do território norte-americano, muito além do velho vaqueiro dos comerciais da Marlboro ou um velho republicano trajando botas e mascando/cuspindo tabaco. Sua capital espiritual, Nashville, é para jovens músicos o que Hollywood é para jovens atores em busca de fama. Joshua Hedley é uma das grandes revelações do estilo e integra, talvez, a gravadora com o melhor time de músicos da nova geração norte-americana. "Se você quer entrar para a Thrid Man, você deve merecer esse lugar, tem que fazer todo trabalho e deve ter uma visão criativa. Ele está encontrando gente como eu, que passou a vida toda tocando por merreca, e dando oportunidade de mostrar sua arte para o mundo. Ninguém mais faz isso", comenta Joshua sobre a companhia de Jack White.

Um cara com ótimos referenciais musicais e com grande conhecimento histórico dentro da country music, "Eu amo Fraulein do Bobby Helms, mas também I wouldn't have missed it for the world do Ronnie Milsap, gravadas respectivamente 1957 e 1981. O som deles é completamente diferente, mas ambos são country, os dois são demais e chegaram ao #1". O músico também falou sobre o seu amor por Bob Wills, a sua participação no videoclipe do rapper sulista Yelawolf e semelhanças entre country e bluegrass. "Country e bluegrass são bem parecidos, assunto em si é o mesmo: coração partido, tristeza, assassinato, amor, bebedeiras, etc. A única diferença é a execução. Há diferenças quanto ao estilo mas o núcleo da coisa é o mesmo. É por isso que eles estão de mãos dadas há tanto tempo".



Ugo Medeiros – Você é de Nashville, uma cidade que transpira talento musical. No Brasil a cada esquina tem um moleque que arrebenta no futebol, já em Nashville dizem que há um músico extremamente talentoso tocando em alguma esquina por alguns trocados em busca de algum contrato com gravadora. Como é viver lá? Acredito que você cresceu com ótimas referências musicais, certo?


Joshua Hedley - É muito bom viver em Nashville, te inspira em criatividade e te motiva a trabalhar com mais vontade. Você tem que trabalhar constantemente na sua arte porque você não é mais o melhor cara do quarteirão. Eu me senti um merda quando me mudei para a cidade e "baixei a bola" assim que arrumei a minha primeira gig. Foi como se tivessem me jogado aos leões de Daniel. Todos eram melhores que eu, todos já estavam nessa há mais tempo e eles não tinham o menor problema em me dizer no que estava mandando mal. Foi bastante humilhante, mas era justamente o que eu precisava. É demais poder viver aqui e seguir os mesmos caminhos de pessoas que me inspiraram. Começar como sideman, assim como Johnny Paycheck, Willie Nelson, Jack Greene, Roger Miller e tantos outros, isso é muito legal. Isso te faz sentir mais próximo aos seus heróis. Nada disso foi planejado, eu estava bem contente com a minha vida, tocando fiddle na cidade e excursionando com os meus amigos. Foi muito legal a forma que tudo aconteceu. Vê só, o Jack Greene tocava bateria na banda do Ernest Tubb mesmo quando tinha um disco no primeiro lugar, There Goes My Everything. O Ernest Tubb teve que demití-lo porque o Jack só se importava mesmo em tocar bateria, mesmo tendo um disco no primeiro lugar! Acho isso muito legal, é bacana trilhar uma trajetória parecida. É inspirador.

UM – Você tem diversas baladas de folk, uma tradição anglo-saxônica com um sotaque americano. Para você, quem canta/cantava as melhores baladas de folk? A propósito, parabéns pela sua Don't waste your tears, grande canção!


JH - Acho que são mais baladas country. As baladas são as minhas favoritas dentro da música country. Para mim, country é a coisa de transmitir emoções através das canções, e nada melhor do que uma balada bem lenta e triste. Teve tanta gente que fez baladas tão maravilhosas, fica difícil eu escolher um como "o melhor". O Mickey Newbury é belo exemplo de quem conseguia escrever uma letra que te levaria às lágrimas e ainda cantar e te deixar totalmente devastado. Mas tem tantos outros. Old violin do Johnny Paycheck parte o coração, Is it raining at your house do Vern Gosdin, a versão do Ray Price para Lonely Street, Look at us do Vince Gill acaba comigo, também tem a versão do Gene Watson para Farewell Party que é matadora. Estes são apenas alguns exemplos, como eu disse, é difícil escolher alguns favoritos. Mais tarde, fiquei obcecado pela versão de Daryle Singletary para The note. Eu escrevi Don't waste your tears com todas canções incríveis na minha mente. Eu tinha algo para falar sobre uma experiência que tive e quis colocar para fora, caso alguém estivesse passando pelo mesmo que eu.


UM - Você considera o Peter Seeger o maior nome do folk em todo os EUA ou ele é maior na região Nordeste (Nova Iorque)?


JH - Sinceramente, sou um cara mais Bob Seger. Não sou tão familiarizado com a obra do Peter Seeger.


UM – Você é uma grande revelação do country. Mas em Nashville há uma forte tradição/cena de bluegrass (é próximo ao Kentucky, lar do estilo). Quais as diferenças entre o bluegrass e o country tradicional?


JH - Sim, Nashville tem uma forte tradição no bluegrass. O bluegrass sempre fez parte do Opry [N.E: Grand Ole Opry, tradicional casa em Nashville], desde a dupla Reno & Smiley a novos nomes como Rhonda Vincent e Ricky Skaggs. Este último é o exemplo perfeito de alguém que conseguiu uma carreira de sucesso no bluegrass e no country. Keith Whitely e Marty Stuart também começaram no bluegrass. Country e bluegrass são bem parecidos, assunto em si é o mesmo: coração partido, tristeza, assassinato, amor, bebedeiras, etc. A única diferença é a execução. Há diferenças quanto ao estilo mas o núcleo da coisa é o mesmo. É por isso que eles estão de mãos dadas há tanto tempo.


UM – Eu assisti ao seu vídeo tocando Old fashioned love do Bob Wills. Cara, eu AMO o Bob Wills e aquele western swing! Você poderia falar sobre a influência do Bob Wills na sua vida?


JH - O Bob Wills foi uma grande influência quando eu era criança, ele ampliou o papel que o fiddle poderia desempenhar para mim. Mostrou que não estava militado a "breakdowns" [N.E: estilo antigo de origem europeia] e valsas. Você pode construir um pensamento bem criativo e original provocando solos baseados em torno de progressões de cordas mais enraizadas no jazz e no swing do que no country. Eu me trancava no quarto por horas, diariamente, e escutava a música do Bob Wills, prestava atenção no que eles faziam e tentava passar para o meu fiddle. Quando eu finalmente escutei no meu fiddle o que eles faziam, como copiar aquilo, me deu as ferramentes necessárias para desenvolver as minhas habilidades na improvisação. Bob Wills and the Texas Playboys abriram uma porta imensa para mim na parte de improvisação e me transformou em todo tipo de música nova que eu nunca tinha escutado.


UM – Eu li um comentário seu na Rolling Stone Magazine, "O meu novo toque inovador é não ter nenhum. É importante exercitar os seus músculos criativos, mas para mim a música country era perfeita em 1965". Você poderia explicar?


JH - Essa foi uma declaração bem ousada da minha parte. A música country parece que muda no seu estilo a cada dez anos, mais ou menos. O som dos anos 1940 é diferente dos anos 50, depois, ao final dos anos 50 a bateria ficou mais presente. Da mesma forma que em meados dos anos 1960 ouvia-se menos fiddle e pedal steel e mais arranjos orquestrais exuberantes e uma produção mais suave. Existem aspectos no country de cada década que eu amo. Eu amo Fraulein do Bobby Helms, mas também I wouldn't have missed it for the world do Ronnie Milsap, gravadas respectivamente 1957 e 1981. O som deles é completamente diferente, mas ambos são country, os dois são demais e chegaram ao #1. O que eu quis dizer foi que o country atingiu a forma que eu mais gosto em 1965, o estilo daquela época é mais eu. Merle Haggard and the Strangers Okie From Muskogee Live 1969, Buck Owens and his Buckaroos Carnegie Hall Concert de 1966, ao mesmo tempo que em Nashville músicos como Owen Bradley, Chet Atkins, and Billy Sherrill revolucionavam a música country. Tem muita coisa boa, incríveis, de diferentes tipos de country em todas as décadas até os anos 1990, mas quando escuto Almost persuaded do Merle Haggard me sinto em casa.



UM – Você tocou como sideman do Jonny Fritz, um hippie lendário na cena da música country. Você poderia falar sobre ele e sobre a experiência?


JH - Tocar com o Jonny foi um dos melhores momentos da minha vida, não trocaria essa experiência por nada no mundo. Ele me ensinou demais, desde como transformar uma frase que seja engraçada e com um pensamento mais crítico, como enfiar quatro pessoas em um quarto de hotel para apenas uma pessoa (rs). O cara é meu irmão e eu o amo. Sou o seu maior fã.


UM – Você gravou uma participação no vídeoclipe Shadows do Yelawolf. É um encontro interessante, um rapper sulista e um cara do country. Você poderia falar sobre o projeto?


JH -Wolf é um visionário. Ele teve uma ideia e a fez realidade. Ele criou a sua própria linha musical e fico honrado de ter participado disso.


UM – Você está na Third Man Records, uma ótima gravadora para aqueles que realmente amam MÚSICA. Eu considero, atualmente, o Jack White "O" grande produtor dos estilos musicais das raízes americanas, quase como Allan Lomax...


JH - Quando me chamaram para entrar na família Thrid Man eu não exitei. O que Jack faz é muito importante, usa sua influência e traz atenção para uma sociedade underground, leva o reconhecimento a pessoas que fazem o que fazem há tempos. Ele e a Third Man não estão interessados naquele coisa do mainstream em criar "artistas", eles não assinarão com alguém que tenha apenas uma boa aparência e algumas canções escolhidas a dedo que eles acham que serão sucessos. Eles não estão interessados nessa coisa enlatada que ressoe a um público de grande escala. Se você quer entrar para a Thrid Man, você deve merecer esse lugar, tem que fazer todo trabalho e deve ter uma visão criativa. Ele está encontrando gente como eu, que passou a vida toda tocando por merreca, e dando oportunidade de mostrar sua arte para o mundo. Ninguém mais faz isso.


UM – Muito obrigado por esse bate-papo, Joshua! Mande uma mensagem ao público brasileiro!


JH - Escutem o máximo de Gary Stewart





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