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Entrevista Damo Suzuki


Em sua recente passagem pelo Rio de Janeiro, que incluiu um workshop e dois shows, o ex-vocalista do Can mostrou porque deve ser considerado um dos grandes do rock. Anti-herói por natureza, Damo roda o mundo atrás de jams com músicos de diferentes formações em busca de novos horizontes musicais. Aparentando desconforto em relação aos rumos que a música tomou (inclusive com o fato de conceder entrevistas), o mestre do experimentalismo nos concedeu um tempo após um dos shows. Ugo Medeiros – Você gira o mundo tocando com músicos locais. Qual foi a passagem que mais te marcou? E a que mais te deixou desconfortável? Damo Suzuki - Bem, eu já tive muitas experiências pelo mundo. Momentos marcantes? Acredito que 95% foram positivas e apenas 5% foram negativas. UM – Com que idade você saiu do Japão? Como era a cena musical lá naquela época? Ainda era restrita à música tradicional ou já havia influências ocidentais? DS - Fui embora do Japão quando tinha dez anos. Sinceramente, não me lembro muito da cena musical japonesa daquela época, pois eu escutava muita soul music (risos). UM – Li em um site que, antes de entrar para o Can, você rodou a Europa graças ao On the Road (Jack Kerouac). Quais obras literárias mais te influenciaram? DS - Não é verdade. Inventaram isso. Nessa época eu tinha apenas 16/17 anos e ainda não tinha lido o livro. Até então não tinha lido nada que tivesse me marcado. UM – Você entrou para o Can em 1970. Como foi o seu primeiro contato com Holger Czukay? DS - Foi muito casual, ele me encontrou no meio da rua (risos). UM – Como foi substituir Malcolm Mooney? Em um primeiro momento você tentou manter a mesma linha vocal dele ou fez da sua forma? DS - Com certeza eu fiz da minha maneira porque eu nunca tinha escutado o Malcolm cantar. UMSoundtracks ainda tinha muita sonoridade de Mooney. Tago Mago foi a primeira gravação com nova cara do novo Can. Como foi gravar esse disco, que para muitos é uma das grandes obras primas do rock? DS - Você acha, realmente, que Tago Mago é uma obra prima do rock (risos)? Bem, foi uma gravação muito louca. Queríamos ir a diferentes direções, fazer algo novo, inédito. UM – A imprensa inglesa sempre exaltou artistas como ELP e Rick Wakeman. Você acha que ela foi injusta com o Can? DS - Acho que não. Aquela era a opinião deles. Todos têm direito de pensar diferente. Respeito a opinião neles. Na verdade, nunca dei muita importância a eles. UM – O que você acha dos discos do Can após a sua saída? DS - Não gostei. Não achei nem um pouco interessante. Mas essa é apenas a minha opinião... UM – Na hora de cantar, o que você prioriza: a melodia ou a harmonia? DS - Nenhum dos dois. O SOM é o mais importante. Eu me considero um “sound curious”. UM – O que você acha da música eletrônica atual? DS - É ok. Não gosto muito da música atual. Eu penso que a música eletrônica deve ser simples, utilizando-se muitos sons, mas sem perder o rumo. UM – Há algum estilo ou banda atual que te chame mais atenção? DS - Sinceramente, não. Gosto apenas de música. Já escutei tanta coisa boa que acaba sendo difícil abandoná-las... UM – Você conhece algo da música brasileira? Há algum músico que lhe chame mais atenção? DS - Não conheço muito. Conheço Sérgio Mendes. É o pianista dos anos 60, né? É muito difícil para o estrangeiro conhecer a música brasileira, pois tem muita musicalidade diferente. Isso se deve ao fato da música brasileira ter vindo da África. É um estilo musical bem diferente do estilo Ocidental.

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