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Blues Etílicos na Lapa


Vida de crítico musical não é fácil, apesar de todos acharem que é um mar de rosas. Escuta-se muita banda sem talento e deficiente em técnica. Há momentos em que os ouvidos não aguentam mais e pensa-se até em largar a profissão. Felizmente às vezes aparece uma banda que rompe com esse clima brochante, caso do show do Blues Etílicos.

É gratificante constatar que a melhor banda de blues nacional não fica estagnada, acomodada no mesmo nível, mas, pelo contrário, cresce musicalmente a cada dia. É muito bom escutar os primeiros discos da carreira, do final dos anos 1980, e notar que todos os integrantes aprimoraram a técnica e o entrosamento. Maior exemplo disso é o último lançamento do grupo, Viva Muddy Waters (Delira Blues). Um disco sem erros do começo ao fim, onde o quinteto formado por Flávio Guimarães (gaita e vocal), Greg Wilson (vocal e guitarra base), Otávio Rocha (guitarra), Pedro Strasser (bateria) e Cláudio Bedran (baixo) mostra que blues está vivo e muito bem, obrigado.

O show, que faz parte da turnê do disco em homenagem ao mestre Muddy Waters, foi de arrepiar. Na abertura dois clássicos nos quais a banda mostrou estar afiada, I can’t be satisfied (Muddy Waters) e I want to be loved (Willie Dixon), esta com direito a um show à parte de Flávio. Depois, veio um blues-rock de Charlie Musselwhite, Seems like the whole world was crying, a melhor música da apresentação. O vocalista americano, Greg Wilson, canta de forma irrepreensível, e a guitarra de Otávio Rocha pega fogo a cada nota de slide.

Enganam-se os que falam que show de blues é composto apenas de canções em inglês. Os Etílicos ainda dedicaram uma parte do show para o repertório em português. Canceriano sem lar (Raul Seixas), marca registrada da banda, levou o público à nostalgia. Cerveja teve solos jazzistas de baixo e bateria e um retorno ao estilo Heartbreaker (Led Zeppelin). Fechando o set tupiniquim, Dente de Ouro, música com fortes influências da rica sonoridade brasileira. Com citações e trechos de músicos renomados, como Baden Powell, Airton Moreira, Ary Barroso e Luiz Gonzaga, a banda fez uma viagem pelos quatro cantos do país.

O show encaminhava-se para o final e Walking blues (Muddy Waters) ainda distribuía blue notes pela casa. Para o encerramento, Good morning little school girl (Sonny Boy Williamson), uma das canções mais regravadas por blueseiros e roqueiros mundo a fora.

Há mais de vinte anos na estrada elevando a bandeira do blues, o Blues Etílicos é hoje um grupo maduro. Seus integrantes não são meros bluesmen, mas, sim, músicos de excelência. Quem pôde ir ao Rio Rock & Blues da Lapa viu uma grande apresentação.

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