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Entrevista John Hammond Jr.


Aos 67 anos e com mais de quarenta anos de estrada John Hammond Jr. é uma lenda viva do blues. Considerado por muitos o representante do delta blues mais importante desde Robert Johnson, Hammond propaga o verdadeiro blues pelos quatro cantos do mundo. Durante a passagem pelo Brasil, esse “senhor” deu uma aula de história da música e contou sobre o começo de carreira e como ajudou as carreiras de grandes nomes, como Bob Dylan e Jimi Hendrix. Ugo Medeiros – Em 1967 você gravou dois discos, I Can Tell e Mirrors, com integrantes do The Band. Como foi essa parceria com aqueles grandes músicos? John Hammond – Eu conheci o The Band em 1962, em Toronto. Eles ainda se chamavam Levon and the Hawks e eram liderados por um cara chamado Ronnie Hawks. Nós tínhamos a mesma faixa etária, eu estava começando a minha carreira e eles já eram todos profissionais, realmente, excelentes músicos. Eles costumavam ir à Nova Iorque. Lá, nós saímos, passávamos tempo juntos e, às vezes, eles apareciam nas minhas apresentações. Ficamos muito amigos. Em 1965 ou 1964 eles estavam na cidade e eu tinha assinado com a Vanguard Records. Perguntei à gravadora se podia fazer uma sessão com a banda e outros músicos, como Michael Bloomfield e Charlie Musselwhite. Assim, depois de três horas de estúdio e 12 faixas gravadas, estava pronto So Many Roads. Um ano depois nos reunimos em outro estúdio para tentar gravar pela Red Bird Records. Tínhamos grandes nomes, como Robbie Robertson (guitarrista do The Band), Bill Wyman (ex-baixista dos Stones) e Artie Butler (piano). Daí saiu I Can Tell, do qual uilizamos os outtakes, assim como os de So Many..., para gravar o Mirrors. UM – Alguns críticos referem-se a você como o Robert Johnson branco. O que você acha disso? O quanto a música e estilo dele te influenciou? JH – Eu aprendi todas as suas canções, acho que ninguém me influenciou mais do que ele. Eu sempre o achei o grande “sintetizador” do blues, pois ele escutava todos os grandes músicos da sua época e fazia o blues com o seu próprio estilo. Eu pirei quando o escutei pela primeira vez. De fato, ele era o melhor de todos os caras daquela época. UM – A sua carreira começou durante o revival do blues nos anos 60. Naquela época o americano estava interessado nas influências folks e do blues clássico. Você acha que, atualmente, o americano perdeu aquele interesse? JH – O americano, em geral, não tem tanto interesse no blues, acredito que seja apenas mais um segmento. Agora, os que gostam de blues, realmente gostam... UM – Como foi a transição da guitarra acústica para a elétrica? Você sofreu algum preconceito, como o Bob Dylan sofreu? JH – Bob e eu somos grandes amigos. Ele sempre amou o blues. Eu o apresentei ao The Band e ao Michael Bloomfield, portanto acho que tenho a ver com a transição dele... Ele acabou se tornando uma grande estrela. UM – Ao longo da sua vasta carreira, qual a parceria que mais te marcou? JH – Eu sempre tive o prazer de sair com grandes pessoas. Ninguém tinha dinheiro, mas havia uma amizade forte e éramos todos iguais. Tive a chance de gravar com nomes como Duane Allman, Charlie Musselwhite, The Band, JJ Cale, Charles Brown, Little Charlie & The Nightcaps, todos eles fenômenos. Tive muita sorte em estar lá (risos)... UM – Eu li em um site que o Jimmy Reed te marcou profundamente. O que você pode falar sobre ele? JH – Ele tinha um estilo, uma voz e uma forma de tocar que todos gostavam. Todos sofreram algum tipo de influência do Jimmy. O pessoal do country ama a sua música, pois ele soa muito puro e profundo. Ele foi o primeiro músico que eu vi tocando violão e gaita ao mesmo tempo. Aquilo me marcou imensamente. UM – Como foi a sua relação com Jimi Hendrix? JH – Eu o conheci quando ele estava “encostado” em Nova Iorque. Eu não sabia quem ele era, na verdade, ninguém sabia. Um amigo em comum nos apresentou, ele ficou muito feliz em ter me conhecido. Ele tinha escutado algumas gravações minhas e tocou para mim. Quando o vi, não acreditei, era um fenômeno. Ele me perguntou se eu arrumaria algum gig para ele. Eu fui a uma casa que eu já tinha me apresentado anteriormente e perguntei ao dono se ele nos contrataria se eu montasse uma banda. Ele topou e marcou para a semana seguinte. Juntei uma banda e coloquei o Jimi como lead guitar e, assim, tocamos lá por uma semana. Os The Animals estavam na cidade e foram ao show. Chas Chandler (baixista do Animals) ofereceu ao Jimi um contrato para gravar na Inglaterra. Uma semana depois, ele partiu e voltou um ano depois, já como uma grande estrela na Europa. Nessa época, eu me apresentava em um clube em Nova Iorque. Ele tinha uma semana de folga e se ofereceu para tocar na banda. No dia seguinte, o Cream chegou à cidade. Eu havia conhecido o Eric Clapton em 1965, e ele compareceu ao show. Para minha surpresa, quando me dei conta, eu tinha Clapton e Hendrix na minha “pequena” banda por uma semana. Foi demais! Hendrix tinha um talento natural, ele era único. Não acho que existirá alguém como ele. UM – Você gravou com um dos maiores gênios da guitarra, Duane Allman. Como foi? JH – Foi incrível! Em 1969, fui para Musselshows, Alabama, para gravar com a banda de estúdio que gravou com grandes nomes, como Aretha Franklin e Wilson Pickett. Durante dois dias, tentei mostrar a eles o que eu queria, mas eles não estavam entendendo muito bem. Foi quando, do nada, me apareceu aquele garoto que dirigiu de onde morava só para me conhecer. O guitarrista da banda, Eddie Hinton, nos apresentou e disse que eu deveria escutar o Duane. Ele era muito bom e acabamos gravando uma canção. Perguntei se ele não queria gravar mais uma. No final, foram cinco musicas, que estão no álbum Southern Fried (Atlantic). Nos tornamos muito amigos. Isso foi antes de formar o Allman Brothers Band, quando ele ainda era músico de estúdio. Depois disso, fiz muitas apresentações com o Allman. UM – Essa é a sua primeira vez no Brasil acompanhado com uma banda. Como você prefere, tocar com uma banda ou sozinho? JH – É mais fácil pra eu tocar sozinho, 90% dos meus shows são assim. Acompanhado é diferente, mas esses caras que vieram são excelentes músicos e amigos. Com eles, posso tocar guitarra e isso me diverte (risos). Estava com um bom pressentimento do que poderíamos fazer juntos. UM – O seu pai (John Hammond) era um grande produtor e caçador de talento da Columbia. Ele descobriu nomes como George Benson, Billie Holliday, Bob Dylan, Aretha Franklin e Bruce Springsteen. O que você aprendeu com ele? Como foi crescer nesse ambiente musical? JH – Ele era um bom homem, com um grande conhecimento musical. Ele descobriu Count Bassie e montou uma banda para o Benny Goodman, na verdade “tio Benny”, pois ele se casou com a irmã do meu pai (risos). Meus pais se divorciaram quando eu tinha cinco anos. Eu o via ocasionalmente, passava duas semanas com ele durante o verão. Muitas pessoas pensam que eu aprendi com ele, mas, na verdade, foi na “marra”, sozinho, subindo ao palco. Ele tinha muita preocupação comigo, achava que era um grande erro eu me meter no mundo da música. Alguns anos depois ele me viu em ação e se tornou um grande entusiasta. Eu cometi muitos erros, mas de alguma forma, no final, deu tudo certo (risos)... UM – O que você escutava na sua infância? JH – Eu escutava muito country-blues, artistas como Sonny Terry & Brownie McGhee, Josh White, Leadbelly, Pete Seeger. Nos anos quarenta, durante o primeiro folk revival, ouvia muito folk e folk-blues. Adorava nomes como Wood Guthrie. Eu morava no Greenwich Village (Nova Iorque), lugar que era o centro do folk, e lá tive a oportunidade de ver muita gente boa durante a minha adolescência. Quando ganhei minha primeira guitarra aos dezoito anos, tinha certeza de que faria isso para o resto da minha vida. Eu tenho 67 anos e não me arrependo de um minuto sequer, é incrível... UM – E o seu último disco, Rough & Tough (Chesky)? JH – Vocês o conhece?! Eu o fiz em apenas uma tarde, em uma antiga igreja. Foi difícil, mas gravei dezesseis faixas. Dessas, apenas uma não entrou. Eu queria gravar um álbum sozinho, mostrar o que eu faço agora, que tipo de música eu escuto e consigo fazer.

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