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Entrevista Jeff Berlin


O cara é um monstro do baixo e inovou na forma de solar um instrumento que por muitos é escanteado. Jeff Berlin, com toda simpatia possível, falou sobre suas influência da música clássica, relação com Allan Holdsworth, admiração pelo Paul McCartney e o porquê de ter recusado um convite de ingressar ao Van Halen! Leia, curta, compartilhe, comente essa entrevista com um dos maiores baixistas da história!


Ugo Medeiros - Seus pais eram músicos de clássico e você considerado um prodígio do violino. Você poderia falar sobre essa formação clássica na sua vida?


Jeff Berlin - Música clássica, sim, desde de antes de Bach até os compositores depois de Stravinsky. Essa era a música que escutava na minha infância. Meu pai colocava no rádio de casa e ainda comprava todo tipo de LP clássico, o que mais me impressionava era a coleção Beethoven. Eu amava Beethoven desde os seis anos, a música dele nunca era demais para mim. Escutava repetidamente a terceira e a nona sinfonias literalmente toda noite. A minha minha mulher sofria, não aguentava mais esse meu vício noturno em Beethoven, a ponto dela quase trocá-lo como seu compositor favorito para Mahler! (rs)


UM - Um dos trabalhos mais belos que já escutei foi Wynton Marsalis interpretando Concerto de Brandemburgo de Bach. Nessas ocasiões vemos que é possível o diálogo com o erudito/clássico...


JB - Sinceramente, não cheguei a escutar esse trabalho, mas fica claro que nós compartilhamos os mesmos gostos e influências, como o amor por Beethoven e outros compositores clássicos. Estou planejando um disco clássico, mas sem orquestra, não escuto o meu baixo com aquela companhia toda. Mas, com certeza, variarei, testarei, diferentes tipos de instrumentos ao meu lado desde o primeiro dia de gravação.


UM - Jack Bruce (Cream) foi o cara que te fez largar o violino e partir para o baixo?


JB - Não! Foram os Beatles e o Paul McCartney. Eu descobri que o baixo elétrico tinha os mesmos "nomes" de cordas que o violino, mas afinados do grave para o agudo em quartas, não em quintas. As cordas do violino do grave para o agudo são G D A E, já no baixo elétrico E A D G. Depois de uma década praticando e treinando, e escutando muito Paul McCartney, soube que esse era o meu instrumento.

O Jack Bruce entrou na minha vida porque no Cream ele foi o primeiro baixista virtuoso. Aquelas jams ao vivo explodiram a minha cabeça! Eu nasci para ser um baixista e a forma imprevisível dele tocar foi justamente a luz que me guiou e mostrou que um baixo pode tocar uma nota raiz/base, ou não. Esse conhecimento me pirou a cabeça. Há uma semana gravei um overdub em um arranjo do novo disco do Gill Evans. O primeiro acorde da música era um sol com sétima maior (Gmaj7) e o baixista original tocava oito compassos onde a fundamental do acorde era G. Quando gravei em cima da peça minha primeira nota foi um fá sustenido (F#) bem grave e eu o mantive até criar uma linha de volta à nota fundamental. Os filhos de Gill, Noah e Miles, amaram! Se analisarmos, o cara que me permitiu fazer isso com o baixo foi justamente o Jack Bruce.


UM - Como nasceu a sua parceria com o Allan Holdsworth?


JB - Nós não temos uma parceria, nós temos carinho e respeito pelo outro e admiração pelo que cada um toca. Eu o conheci através do Tony Williams quando fui convidado para entrar na banda do Tony. Mas apenas anos depois o conheci de fato, quando tocamos com o Bill Buford. Logo na sequência ingressei na turnê americana do seu disco I.O.U. Tenho um projeto de regravar parte do trabalho solo do Jack Bruce e ele, Allan, fará parte em algumas faixas. E isso me deixa feliz, tocar ao lado desse gênio da guitarra.


UM - Eu tenho o seu disco Pump It, de 1986, um grande disco! O que você prefere: estar à frente da sua banda ou tocar como músico de estúdio? Qual a diferença?


JB - Eu amo os dois igualmente mas por razões diferentes. Eu acabei de me mudar para Nashville, Tennessee, porque queria gravar como sideman (músico de estúdio), sem ser "apresentado" nem tendo que tocar apenas de uma forma (convencional). Eu queria mais liberdade. Às vezes apenas tocar o baixo, simples, com uma boa afinação/som me deixa satisfeito, mas eu também gosto de escrever a minha própria música. Eu gosto da coisa de criar novos caminhos no baixo para mostrar as minha novas ideias no instrumento, na música. Tenho tocado mais devagar do que o costume, tenho visto uns baixistas tocando um milhão de vezes mais rápido do que eu. Eu tento me destacar/sobressair com a percepção do que está rolando na música (tendências), aí faço algo diferente. Eu não posso tocar baixo como esses garotos que têm uma técnica surpreendentemente genuína, eu simplesmente tento de uma forma ainda inédita. Aí pego as minhas gravações para dar um formato às minhas ideias. Estou com algumas novas ideias, novos conceitos no tocar o baixo que certamente virão em um futuro disco.


UM - É verdade que você foi convidado para ingressar ao Van Halen mas recusou? Por quê?


JB - Eddie Van Halen é um guitarrista brilhante e sozinho recriou a forma de tocar guitarra no rock. Quando ele me ofereceu a vaga eu realmente queria, mas eu não estava no ritmo, nos tipos de atividades, dos jovens roqueiros dos anos 1980. A banda deles não era uma brincadeira, era sério, e eu não queria simplesmente entrar, fazer dinheiro e sair. Eles faziam coisas que eu não fazia, recusar foi a melhor decisão. Não queria tirar vantagem de uma banda que significava TUDO para o Eddie (Van Halen), Alex (Van Halen) e Dave (Lee Roth).


UM - Você é constantemente comparado ao Jaco Pastorious. Isso te incomoda?


JB - Sério? Não sabia disso, estou lisonjeado! Acredito que ele tenha sido tão inovador e harmonicamente único que quando aparece um cara como eu com um estilo minimamente semelhante faz-se esse tipo de comparação. De fato, compartilhamos influências, ambos viemos de famílias problemáticas, desde cedo escutamos boa música: o pai dele o apresentou Frank Sinatra e big bands, já o meu pai me introduziu a Beethoven e Chopin. Desde cedo tivemos uma boa base musical e começamos a tocar profissionalmente na adolescência. Ambos fomos admirados e criticados pela nossa forma de solar no baixo, isso só mudou quando a crítica e o público internacionais nos ouviram. Uma grande diferença entre nós é que o Jaco era um gênio, eu não sou.


UM - Em 2014, no Rio das Ostras Jazz & Blues Festival, te vi ao lado do Scott Henderson e Billy Cobham. Caceta! Parecia uma versão jazzística de King Crimson com LSD! (rs)


JB - Scott e eu tocamos desde os anos 1980, nós conhecemos a personalidade e o gosto musical de cada um. Ele é um dos meus melhores amigos e um músico que eu admiro demais. Aquela formação em Rio das Ostras aconteceu porque o Dennis Chambers estava doente e não pôde nos acompanhar pela América do Sul. O Billy é uma lenda da bateria e nos divertimos demais tocando com ele. Agora, versão jazzística de King Crimson com LSD? Wooow! É uma boa forma de interpretar aquele trio. (rs)


UM - Naquele festival, entrevistei o Billy Cobham e perguntei sobre as diferenças entre Frank Zappa e Miles Davis. Ele falou que o Zappa era ótimo em escrever peças, já o Miles estava sempre improvisando sem uma linha definida. Você, que tocou com o Zappa, concorda?


JB - Sim! Zappa era um compositor, enquanto que o Miles era um improvisador. Ambos eram músicos visionários e tinham 100% de certeza do que queriam/esperavam dos seus músicos. Mas em termos de conceitos musicais eram o oposto.


UM - Se você pudesse escalar uma super banda com todos os músicos que você já tocou, qual seria a formação?


JB - Ginger Baker aos trinta anos na bateria, Ray Barretto nas congas, Joe Zawinul no sintetizador, toda a seção de sopros da Tower of Power [banda de funk americana] e Al Green nos vocais. Com certeza seria uma banda muito estranha, mas o potencial em originalidade, alma/espírito e harmonia seria altíssimo!


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