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Entrevista Ivan Marcio


Gaitista da antiga Prado Blues Band, umas das melhores bandas de jump blues do mundo, Ivan está em carreira solo e mantém o padrão de qualidade. Entretanto, as águas do Mississippi mudaram de curso e desembocaram em Chicago. Chicago Blues Session vol.1, gravado na cidade homônima, é o primeiro trabalho do paulista que adora John Lee Hooker e Muddy Waters.

Ugo Medeiros – Você poderia falar sobre a gravação do seu primeiro disco solo, Chicago Blues Session vol. 1? E como estão os planos para o vol. 2? Aliás, o Chicago blues sempre esteve presente na sua formação? Ivan Marcio - Sempre gostei muito de Muddy Waters, John Lee Hooker e Willie Dixon e isso fez a diferença para escolher Chicago como QG e gravar meus dois discos. O primeiro disco gravei com a banda do James Cotton que o acompanhou nos anos 80 (Merle Perkins, Michael Coleman e Michael Morrison). O segundo disco é um trabalho acústico com violão, gaita e vocais e também produzido por Jon Mcdonald, integrante da Banda Teardrops do Magic Slim. UM – Você sempre cantou? Como foi a transição da gaita para vocal principal? IM - Iniciei minha carreira aos 14 anos tocando profissionalmente e sempre fui vocalista, sempre estive muito à vontade para cantar. Minha família paterna sempre tocou e cantou, isso faz a diferença em nossa criação. UM - Qual o repertório nos shows, aquelas músicas que nunca podem faltar? IM - Next time you see me de Junior Parker, Black Night de Charles brown e Messin`with the kid de Junior Wells UM - Atualmente como é a formação da banda nos shows? Você pensa em fazer uma turnê pelo Brasil com a banda que gravou o primeiro disco? IM - A formação é o básico quarteto com baixo, bateria, guitarra, gaita e voz. Estamos com algumas datas no mês de agosto acompanhando a filha de B.B. King (Shirley King) e isso nos dá facilidade de poder colocar a banda na estrada juntos. Mas quando não há um artista internacional tocando junto, os donos de bares e clubes acabam regulando os contratos de shows e limitam as viagens para apenas uma pessoa (que sou eu no caso) e acabo tocando com banda local, bem ao estilo Chuck Berry (risos)... UM - Qual o seu set básico? IM - Microfone Shure sem fio para a voz e gaita limpa, amplificador valvulado, de preferência Fender, tenho um Champion 600 de 5W e um Pro Junior de 15W que seguram bem a onda em pequenos locais e teatros. Para apresentações grandes uso o Fender Twin Reverber ou Hot Rod Deville, microfone JT30 ou Silver Bullet para gaita e gaitas Suzuki Pro master, Manji ou Harp Master. UM – A sua grande influência é a música californiana? IM - Para mim, minha influência é a música de qualidade independente do estilo. UM – Qual é o seu top5 de gaitistas na atualidade? IM - Kim Wilson (Pelé), Rick Estrin (Neymar), Joe Filisko (Ganso), JJ Milteau (Pato) e Omar Coleman (Robinho). IM – E no geral? IM - Todos os meus amigos de profissão. UM – Você poderia diferenciar a gaita diatônica e cromática? IM - Gaita diatônica é para "vagabundos" e gaita cromática para "vagabundos maiores ainda" (risos)... Tudo isso no bom sentido, hein amigos!! UM – Os tipos de blues com mais swing são os de Memphis e o da Califórnia e, ainda assim, há diferenças entre eles. Quais seriam? IM - Memphis considero um swing mais voltado para vocais, pianistas e guitarristas, já na Califórnia tínhamos alguns grupos com o combo (mais voltado ao jazz) que viria a ser como a sonoridade da Prado Blues em seu ápice. Tínhamos na veia Louis Jordan, T. Bone Walker, Duke Ellington, Hollywood Fats, Little Charlie & Nightcats, entre outros. UM - Por que a gaita é um tanto quanto esquecida no jazz? São poucos os que a usam comumente no estilo... IM - Eu discordo com o "esquecido". Há muitos músicos de Jazz que tocam gaita, como por exemplo Howard Levy, Thiago Cerveira, Toots, Adler Trio e muitos outros. O que pode faltar para que seja mais conhecido no meio musical é, realmente, não saber projetar a carreira para o mercado musical, utilizando assessoria, marketing e tudo mais. Isso também ocorre no Blues, mas quem toca sabe onde estão os aficionados e geralmente conseguimos muitos shows além do suporte em divulgação. UM - No Brasil, relaciona-se a gaita apenas ao blues, mas ela também está muito presente no folk. Você teve alguma influência desse estilo? IM - De um certo modo, sim. Na minha adolescência, sempre escutava Bob Dylan, Neil Young e alguns artistas do cenário inglês de música folk. Às vezes em casa, gosto de relembrar colocando alguns discos para rodar na minha vitrola digital. UM – A Prado Blues Band foi uma das maiores revelações nos últimos dez anos. Como foi participar daquela banda? Você também poderia falar sobre o fim dela? IM - Foi um projeto completamente diferente do que havia na cena musical do Brasil, onde as bandas em sua maior parte apenas tocavam blues rock. Nós estávamos caindo de cabeça no jump blues e músicas dos anos 40. A Banda teve seu fim, se não me engano, em 2008, mas nada que não nos permita retornar e fazer algumas apresentações para relembrar nossos bons momentos juntos. Eu e a família Prado somos vizinhos e, sempre quando possível, nos vemos e participamos juntos de alguma maneira em alguns projetos, como tocar com Muddy Waters Jr. UM – Como foi gravar Flávio Guimarães & Prado Blues Band? Ao seu lado estava um grande gaitista, mas com um estilo bem diferente do seu... IM - Flávio Guimarães teve que respirar muito blues tradicional e swing, pois tanto o Blues Etílicos como o trabalho solo são mais voltados ao blues de Chicago e blues rock. Nós (Prado) já tínhamos o swing e seu conceito na veia, mas foi realmente maravilhoso ver o quanto Flávio mergulhou no jump blues, e isso me deixou mais fã dele ainda. Imagine um gaitista que cresceu ouvindo Blues Etílicos e de repente grava um disco com seu ídolo. Para mim foi mais que um sonho, percebi que estava realmente no caminho certo. Dividíamos o repertório e tínhamos arranjos para duas gaitas e em alguns momentos eu ainda tocava guitarra base na banda para dar mais peso ao nosso som. UM - Qual foi a sua maior realização na música, aquele momento inesquecível? IM - A Bends ter me presenteado com uma linha de gaitas com a minha assinatura (Signature Ivan Marcio), tocar com Honey Boy Edwards e gravar meus dois discos em Chicago, terra que acolheu os maiores bluesmen da história. UM - Você já tocou muito músico de renome. Há ainda alguma parceria dos sonhos? IM - Sempre que posso procuro convidar músicos de outros estados ou até mesmo de outros países para participar de shows, pois acredito que isso fortalece os vínculos e mostra a força da família do Blues. UM – Atualmente nosso bluesman mais respeitado no exterior, sem dúvida, é o Igor Prado. Ele já está totalmente integrado à cena norte-americana. Você poderia comentar sobre esse merecido sucesso? IM - É um trabalho duro que iniciou desde os tempos da Prado Blues Band, enviando material para músicos e produtores. A tudo isso se agrega um guitarrista e vocalista super talentoso e maduro. UM – Jefferson Gonçalves, Flávio Guimarães, Big Chico, Ivan Marcio e outros que aos poucos aparecem. Logicamente, há diferenças na forma de cada um tocar, mas é possível dizer que atualmente há um estilo próprio de gaita no Brasil? Como se dá o intercâmbio com os estrangeiros? IM - Eu posso dizer que o gaitista de maior projeção internacional é o Flávio Guimarães. Um músico que vem ganhando espaço internacionalmente ao tocar a gaita diatônica e misturar diferentes estilos musicais é o Jefferson Gonçalves. O admiro muito desde sua época do Baseado em Blues, que eu tive grande honra em ver um show no extinto Jazz & Blues em minha cidade natal, Santo André. Os estrangeiros ficam perplexos ao escutar tanto gaitista bom no Brasil, fazendo o que eles não fazem: manter o blues e, principalmente, a gaita em seu devido espaço. Escutei muitos elogios por tocar como os mais antigos tocavam nos EUA. Também escutei muitos desabafos de grandes músicos dizendo se sentirem tristes, por seus frutos não se interessarem em blues e ficarem tocando funk e esse novo R&B.

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