A Saurceful of Secrets (1968)
Após o sensacional debut, a banda passava por um momento delicado. Syd Barrett, a alma por detrás daquela explosão criativa, apresentava um preocupante quadro de esquizofrenia. O uso desenfreado de LSD e mandrax o deixou isolado, com o olhar perdido. Era comum abandonar o palco no meio das apresentações ou ficar de lado apenas arranhando a guitarra. Ele estava, de fato, em outro planeta. E isso piorou com a turnê pelos EUA, ocasião em que o quadro agravou-se. Com o líder (moral e artístico) ausente no dia-a-dia houve um vazio no comando da banda. Em vez de interromper as atividades e ajudar o ser humano Roger Keith Barrett, a única preocupação foi traçar uma estratégia para manter os rumos da banda apesar da situação crítica. A grande esperança dos fãs e da imprensa era que o tímido Richard Wright, um exímio músico, assumisse as rédeas. Mas, havia a constante presença do ególatra Roger Waters, que tentava impor sua rigidez tipicamente comunista herdada de seus pais. A solução foi trazer um quinto integrante que fizesse a parte de Barrett nos momentos de crise. A banda tinha como meta o líder do Procol Harum, Robin Trower, mas não fizeram o convite formal porque temiam uma recusa. David Gilmour, velho conhecido de Syd, até então um guitarrista com passagens por bandas de jazz e pela Wild Jokers (um rock estilo invasão britânica), foi chamado. A verdade é que Gilmour fora segunda ou terceira opção, o que mais pesou para sua admissão foi sua boa aparência e sucesso com o público feminino (nessa época era modelo). O Pink Floyd tornou-se, por um breve período, um quinteto. Syd estava cada vez mais distante, enquanto que a banda passava por um dilema: “imitar” o estilo Barrettiniano ou buscar uma nova fórmula? Gilmour cantava as partes de Syd de forma fidedigna, mas a desconfiança era enorme. Todos estavam apreensivos e havia quem apostasse no fim do grupo. Após novo surto Syd deixou a banda no começo de 1968. Pouco depois a banda (novamente quarteto) entrava em estúdio em um clima de incerteza. O novo trabalho, A Saurceful of Secrets, reuniu algumas boas canções e quatro caras que lutavam pela continuidade. O disco abre com a excelente Let be more light, com um início bem característico da atmosfera psicodélica londrina. A música se desenvolve bem e é acompanhada por uma boa letra de Waters. Remember a day e See-saw são duas composições sinceras de Wright, infelizmente sua timidez não permitiu um papel mais preponderante. Set the controls for the heart of the sun é o ponto baixo do trabalho: letra previsível e uma base extremamente monótona complementada por um vocal sonífero de Waters. Muitos ficarão vermelhos de raiva e falarão da falta de compreensão do autor. Sinto muito, simplesmente não dá! Corporal Clegg é carregada de humor ao tratar das vítimas da Segunda Guerra Mundial, assunto que mais tarde se tornaria comum aos escritos de Waters. Uma faixa leve que traz também sons de aviões, explosões e marcha militar. A saucerful of secrets é a primeira composição dos quatro integrantes e já apresenta algo de diferente. Apesar de ter uma lisergia permanente tal qual The Piper at the Gates of Dawn, é nítida a tentativa de uma sonoridade com a assinatura do novo Floyd. Encerrando, Jugband blues, última canção gravada por Barrett no Pink Floyd. Novamente, em uma única faixa, o ouvinte tinha a oportunidade de escutar música como nos “velhos” tempos da banda. Nada mais justo que encerrar uma era com o brilhantismo de Syd Barrett. Esse foi o último ato do crazy diamond. À banda restava persistir na nova “cara” do Pink Floyd, que apesar da qualidade de A Saurceful of Secrets não obteve sucesso comercial. O grupo inglês passava de grande revelação à banda com “algum potencial”. O caminho rumo à consolidação no mercado fonográfico seria longo.