Quando o Universo parou
Rio das Ostras. Pesquiso a música norte-americana desde a sua raiz: bluesgrass, jazz, blues, yodeling e outros estilos. Por mais que haja muita semelhança e intercâmbio, é possível identificá-los e delimitá-los. E assim caminha a humanidade. Entretanto meus conceitos musicais foram destruídos e e seus restos jogados para o espaço. Os concertos de Medeski, Martin & Wood com Bill Evans foram uma transcendência sonora. Impossível, e desnecessário, classificar um estilo dominante tamanha a viagem. O trio, facilmente o mais genial da atualidade, passeava com naturalidade pelo jazz, blues, funk e krautrock. O resultado? Duas apresentações insanas. A cozinha formada por Billy Martin (bateria) e Cris Wood (baixo) conduziam os temas, que duravam em média dez minutos. Martin é simplesmente um monstro, muda do jazz ao funk em um piscar de olhos. Pegada leve e total domínio sobre a percussão. Como seria uma jam entre ele e Airto Moreira? Chris Wood não fica atrás, é altamente técnico, mas nunca soando virtuoso. John Medeski segue ora uma linha fusion (Chick Corea), ora algo mais puxado ao krautrock! Sim, krautrock! E nunca esquecendo o blues e ocasionais pitadas latinas. A cereja do bolo, Bill Evans, dava o colorido ao som da banda, apesar de eu concordar em parte com um amigo quando disse que “O saxofone deixou o som mais apelativo”. Eu acho que ficou menos apelativo do que denso. Mas, concordo com ele, de fato, um show apenas do trio seria "porrada". Cubro o festival de Rio das Ostras desde 2007. Já vi John Scofield, John Hammond Jr., Ravi Coltrane, Ron Carter e muitos outros. Mas nada como Medeski, Martin & Wood. É comum as bandas repetirem o set list da apresentação anterior, poucos são aqueles músicos que mudam algo. É óbvio que o trio não se prendeu ao usual: dois shows COMPLETAMENTE diferentes. O segundo, no palco Tartaruga, foi indescritível. O céu abriu e uma luz desceu, o universo parou para sentir aquela energia. De um feriado frustrado, recheado de momentos ruins, para uma renovação de espírito. Medeski, Martin & Wood, muito mais do que jazz e blues, é rock’n’roll libertador e sonzeira transcendental.