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Entrevista Ricardo Werther


Entrevista por Ugo Medeiros

Texto de abertura por Helton Ribeiro


Ricardo Werther é uma lenda do blues nacional. O cantor carioca, um dos maiores do gênero no país, era integrante do extinto Big Allanbik, uma das bandas mais importantes nos anos 1990. Com o fim do grupo em 2002, ele ficou quase uma década sumido do cenário. Muitos se perguntavam por onde andava. Os mais jovens, ou que passaram a ouvir blues recentemente, talvez nem o conheçam. Mas Ricardo está de volta, lançando The Turning Point. O CD vem recebendo elogios entusiasmados da crítica e de músicos como os guitarristas Celso Blues Boy e André Christovam. “Ricardo está no topo: o melhor entre os melhores” definiu Celso. “Ele é o maior cantor do país. Ponto final” arrematou André. Nesse entrevistão, Ricardo Werther fala, entre outras coisas, das peripécias para gravar um disco ao vivo com duas baterias; de sua paixão pelo jazz e o soul; do relacionamento entre os músicos do Big Allanbik, e de como ele tocou trompete para – acredite – Dizzy Gillespie. Ugo Medeiros - Após o fim do Big Allanbik, enquanto os demais integrantes partiram para outros trabalhos, você aparentemente ficou parado. The Turning Point é seu primeiro disco desde então. Como foi esse retorno? Ricardo Werther - Lento e gradual. Até tomar a decisão de retornar, muitas coisas ocorreram. É bom ressaltar que, apesar do fim do Big Allanbik datar de 2002, alguns integrantes já faziam trabalhos paralelos. Na época, não via com bons olhos a criação de outras gigs com membros da própria banda, pois não considerava a hipótese de se fazer algo que não fosse com todos. Era dependente deles. Efeitos colaterais de uma banda com dez anos de convivência. Hoje, muito mais maduro, encaro como algo normal. Com a saída de Alan Ghreen (pianista) e Ugo Perrotta (baixista), o conceito sonoro original se perdeu e me tirou o norte. O desgaste mental foi inevitável, e, com o término, achei por bem me recolher. Nesse período eu mudei de cidade, duas lindas filhas chegaram, meu pai foi pro andar de cima... Coisas assim. Em 2007, depois de diversos pedidos de retorno, com estrutura familiar e a garganta coçando, decidi que poderia contribuir um pouco mais. Recomecei fazendo experimentos com o Blues Groovers – excelente trio com Otávio Rocha, Ugo Perrotta e Beto Werther – juntamente com diversos músicos, como Paulinho Guitarra, Walter Villaça, Pedro Leão e Sérgio Rocha. Num destes encontros, o diretor da gravadora Delira Música gostou do que ouviu e me convidou para fazermos o disco. Deste ponto em diante, foram mais dois anos de trabalho para chegar ao produto e a formação final, com a inclusão do piano de Marco Tommaso e a segunda bateria de Pedro Strasser. UM - Você escolheu algumas canções de artistas pouco conhecidos. De onde veio essa inspiração? RW - Surgiu a partir do momento que fechei a banda que me acompanharia. Com eles, percebi que havia talento de sobra para desenvolver e concretizar as minhas idéias. Foi quando puxei as cartas da manga, pois não queria que o disco soasse apenas como um trabalho de blues e sim, de intérprete. Algo diferente, sem sair dos trilhos. Abrangente, sem ser uma colcha de retalhos. Que eu pudesse caminhar nas vertentes que convivi por toda minha vida e nunca tinha tido oportunidade de apresentar. E claro, fazer com que o público enxergasse não só o blues na cadeia harmônica no disco, mas também o soul groove dos anos 1960 e 1970 e o jazz contemporâneo, em harmonia. Para que isso ocorresse, levei no mínimo seis meses desenvolvendo uma pesquisa histórica que pudesse apresentar compositores desconhecidos do público em geral, mas que tivesse insumos suficientes para interagir com estes três principais estilos. Nove das doze músicas são destes artistas e compositores – Joe Tex, Ted Taylor, George Jackson, Geater Davis – que não tiveram muita expressão no meio do blues, mesmo numa época de crise neste cenário. Eles passaram a obter o devido reconhecimento naqueles raros discos de 45rpm em selos de soul no início dos anos 1960, de onde pincei as músicas. UM - Você sempre teve ligação com esses outros estilos? RW - Sim, sempre! Até tempos atrás, só possuía o Big Allanbik como válvula de expressão. Ali, não podia explorar todos os caminhos que conhecia. O mesmo ocorria com os outros integrantes, que vinham de origens musicais distintas das minhas. Numa banda, você precisa abdicar para somar. Hoje posso expressar com liberdade o que conheço e sinto. Porém, é importante frisar que vários outros artistas brasileiros já apresentaram outros nomes que não fossem somente os “big shots”. No meu entender, público e músicos de blues se renovam e, para aprender o básico, devem obrigatoriamente beber da fonte. Só não pode parar por aí. É necessário expandir o conhecimento, não apenas para o mesmo gênero musical, mas retirar os antolhos para certas ignorâncias sonoras que todos carregamos. É claro que não somos obrigados a gostar de A ou B, mas pesquisar e se deixar ouvir é fundamental. Conheço muita gente que torcia o nariz para determinado estilo musical sem nem me dizer o porquê e, depois de anos, se rendia ao que parecia ser intolerável. Nunca é tarde. UM - Além de canções tradicionais de blues, me chamou a atenção a escolha de três músicas: Folsom Prison Blues, My Funny Valentine e Down By The River. Você poderia falar um pouco sobre cada uma? RW - De uma forma geral, não pretendia limitar o disco a canções genuínas de um determinado gênero, como comentei. Especificamente, Folsom Prison Blues, de 1955, é provavelmente a música mais conhecida de Johnny Cash. Sempre gostei da letra e, mesmo tendo o country como concepção original, o recado final é blues até o osso. Como na versão especialíssima de Slim Harpo, de 1969. My Funny Valentine foi uma decisão minha de última hora, pois, apesar de já ter inserido Compared To What de Les McCann, achava que precisava “quebrar” o disco no meio, com um clássico do jazz. A canção se tornou figurinha fácil por intermédio de Chet Baker, trompetista e vocalista que fez desta música a coluna vertebral de sua carreira. O curioso é que ela originalmente faz parte do musical de Rodgers e Hart Babes In Arms de 1937, em que a letra flerta com a admiração de uma mulher para com seu amante. Baker omitiu as primeiras estrofes, características da fala feminina e... O resto é história. É uma música que está na minha mente desde pequeno. Simples, mas dependendo da montagem dos acordes, expande-se de forma única. Depois de algumas versões com todos os músicos, definimos que o melhor formato seria um arranjo para voz e piano somente. Aliás, um trabalho excepcional de Marco Tommaso. Down By The River me remetia não somente à versão original do autor – Neil Young & Crazy Horse – mas às de Buddy Miles, Roy Buchanan e Crosby, Stills & Nash. Bem, vocês vão dizer “Mas Neil Young foi integrante da banda”. Sim, ele foi chamado logo após o começo do grupo, em 1969. Mas o que ficava na minha cabeça era o trabalho vocal espetacular do CSN. Como gostava de todas as interpretações, acabei criando uma identidade própria, associando um pouco dessas variantes à minha versão. UM - O disco foi gravado com duas baterias. Isso causou um problema, né? Vários estúdios não “compraram” essa idéia... RW - Um problema? Eu diria alguns... Mas não posso me isentar – até porque eu comprei a idéia – de dar os créditos para a mente fervilhante e eternamente jovem de Otávio Rocha. Respondi de imediato: “Claro, tem tudo a ver com o conceito!” No dia seguinte, me senti como aquele cara que passa da conta na birita e depois acha que falou demais. Estava enganado. Quanto aos problemas... Inicialmente, até a própria gravadora via com temeridade a inclusão de uma segunda bateria, por conta da dificuldade em gerar parcerias com estúdios que comportassem e aceitassem o meu objetivo de gravar tudo ao vivo. Não passava pela minha cabeça fazer overdubbing, ainda por cima com arranjos distintos das baterias. Não tiro a razão deles. Porém, com o desenvolvimento das releituras, todos perceberam que isto seria um dos pontos fortes do disco. O improvável acabou acontecendo, quando descobrimos uma fábrica desativada que estava sendo transformada num grande estúdio. Todas as três salas e técnica estavam acusticamente prontas, mas não existia um único multicabo. Convocamos então Roberto Reis – lenda viva na engenharia de áudio – para suprir esta necessidade. Foi um achado, pois abraçou o projeto e continua conosco até hoje. Desta forma, cada bateria pode ser colocada em salas independentes, com visualização mútua pelos músicos. Tivemos tempo e liberdade para certas alquimias como o registro da guitarra, onde colocamos o amplificador dentro de um banheiro de mármore. Conseguimos uma bela ambiência. Bem, voltando aos problemas, existia também a logística, onde certas casas e contratantes provavelmente se assustariam com o fato do trabalho possuir duas baterias. Isso foi completamente desmistificado nos meus dois shows de lançamento no Rio, onde fisicamente foi comprovado que elas ocupam muito menos espaço do que uma bateria e percussão, por exemplo. Puro preconceito, cagaço mesmo. E isto leva à questão do mercado propriamente dito. Sinceramente, nunca me senti à vontade em ter as minhas idéias e criatividade cerceadas por conta de um “momento atual” que não permite exageros. Obviamente, não quero dizer que artistas não devam desenvolver concepções num formato enxuto. Eu mesmo posso realizar algo assim no futuro, mas que seja por livre e espontânea vontade de criação. No caso deste disco, remei contra a maré de um mercado dilapidado. UM - Fale sobre a participação de cada um dos músicos da banda. RW -Antes de falar sobre eles, quero deixar um agradecimento especial às participações mais do que especiais de Flávio Guimarães e Lucinha Turnbull. O primeiro, de longe um dos cinco maiores gaististas do mundo. De um profissionalismo ímpar e que me espelho na condução da minha carreira. A segunda e não menos importante, merece reverencia em qualquer lugar que esteja. Pra quem não sabe, Lucinha foi a verdadeira alma da dupla ‘Cilibrinas do Éden’ com Rita Lee, além da banda Tutti Frutti. Ter a participação dela no meu disco é um átomo perto do que ela deveria ser homenageada. Bem, com relação aos músicos que me acompanharam, diria que, sem eles, minhas idéias seriam somente... Idéias. Beto Werther está comigo desde sempre, assim como Ugo Perrotta, ambos do Big Allanbik. O primeiro, além de irmão de sangue e fé, é o responsável pela bateria do canal esquerdo, o relógio suíço de todas as músicas. Backing vocal que melhor conhece minha voz, produtor de mão cheia neste disco e em outros, meu consultor pessoal durante todo o processo. Assim era no passado, assim será até o fim. Ugo Perrotta é um daqueles baixistas que, em silêncio, esperneia linhas de raciocínio totalmente fora dos padrões e as insere com a simplicidade de um desenho acadêmico. Ouçam Don’t Marry A Fool e I’ve Got My Finger On Your Trigger e vocês vão entender o que eu digo. Pedro Strasser e Otávio Rocha emprestam a qualidade mais do que atestada pelos anos de estrada do Blues Etílicos, mas de uma forma nunca apresentada em suas carreiras. Comandante da bateria do canal direito, Pedro é o multiplicador da improvisação rítmica do disco, mesclando a diversidade de seus arranjos com a bateria de Beto Werther. Como em Down By The River, afrouxando as peles para fazer às vezes de tímpanos. Otávio, companheiro de Beto na produção e, na minha modesta opinião, o melhor guitarrista de slide que esse país já concebeu, apresenta não só esta característica, mas uma riqueza nas bases e contrapontos que confesso não recordar tamanha sutileza e sensibilidade ao que já conhecia do seu estilo. Compared To What é um bom exemplo disso. Já Marco Tommaso é a cereja do bolo. Melhor, o conhaque no café. Peça fundamental no conceito geral do disco, ele encaixa sua formação jazzística ao soul groove e à harmonia do blues com precisão cirúrgica. O domínio do piano, além de piano elétrico Rhodes, órgão Hammond e clavinete, é claramente notado pela naturalidade e o raro bom gosto dos diálogos com Otávio, no decorrer das músicas. Um monstro. Em off: A química dos músicos só foi possível pelo fato de todos serem rubro-negros. E fez-se a luz. UM - O disco está tendo ótima aceitação, mas uma resenha em especial me chamou atenção, a de André Christovam, no encarte do CD. RW - Da minha parte, queria fazer uma homenagem ao André. Devemos respeito e agradecimento por tudo que ele já fez em sua brilhante carreira e, em consequência, por todos nós. O convite que fiz supera em muito a mera intenção de ter uma referência artística atestando a qualidade de um disco. No primeiro show de blues que vi (em 1989, no Circo Voador, antes de sequer pensar em cantar), ele estava lá, no palco. Dez anos depois, quando estava no altar da igreja, esperando aquela que viria ser a mãe das minhas filhas, a música executada era dele. Creio que isso basta. Hoje, somos mais do que bons colegas de profissão. Um grande e raro amigo. Mas fiquem certos de uma coisa: Apesar de tudo, André não escreveria uma única palavra se o disco não lhe agradasse. Ele preservaria a amizade, mas não colocaria o dedo ali. É unilateral, basta vocês lerem as primeiras linhas do encarte. De uma forma ou de outra, fiquei emocionado. O texto foi algo de especial. UM - Relembrando o passado, como foram seus tempos de Big Allanbik? RW - Ah, foi muito divertido... Lá estava eu com meus 28 anos, curtindo os palcos, as viagens e as loucuras... Quatro discos gravados, primeira banda brasileira a fazer uma turnê nos Estados Unidos, reconhecimento nacional e estrangeiro... Roubadas e shows grandiosos, hotéis cinco estrelas e espeluncas... Tudo que um cara que forma uma banda hoje gostaria (ou não) de passar. Até mesmo quando estive fora da banda em 1995, não nos separávamos. Contabilizando os prós e contras da história, o saldo é muito bom! Dava uma bela entrevista coletiva. Se hoje eu sou alguma coisa, devo a esta banda. E o meu retorno também. Dez anos de convivência quase marital, de ensaios diários. Uma confraria de amigos em que o trabalho teve seu início e fim, mas a amizade perdura. Big Gilson (guitarrista) é meu padrinho de casamento e está aí, desbravando e levando sua música às mais inóspitas pradarias. Beto e Ugo continuam me aturando, como irmãos que são. Alan está em outros caminhos musicais, mas é querido por todos. É de longe, em minha opinião, a maior banda de hard blues que esse país já viu, e o legado dela ainda rende frutos. Alguns vídeos perdidos estão começando a pipocar pela net. Procurem por I Can’t Get Next To You ao vivo no Metropolitan (abrindo o show de Steve Winwood em 1998) e depois vocês me falam. É como eu digo: certas bandas, mesmo após seu término, não deviam ter sua história conjugada no passado. O Big Allanbik não foi uma banda. É uma. UM - Quais os momentos mais marcantes desses quase 20 anos de carreira? RW - São vários... A primeira vez que pisei no palco do Circo Voador, no Rio, e a gravação do primeiro disco, Blues Special Reserve; ter a honra e o prestígio de me apresentar em festivais que tinham artistas como B.B. King, Robert Cray, Steve Winwood, Eric Burdon, Magic Slim, Koko Taylor, Ronnie Earl e tantos outros; realizar o improvável sonho de não só conhecer, mas cantar, na maior casa de jazz do mundo, o Blue Note de Nova York. E, nesta mesma noite, ver Warren Haynes do Allman Brothers chegando na casa enquanto tocávamos a nossa versão de Jessica; estar no palco de um grande templo do blues, o “Buddy Guy’s Legends” de Chicago, com o próprio Buddy Guy na platéia; encarar quase 70 mil pessoas num domingo de sol no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, dividindo o espetáculo com Johnny Rivers. E hoje, perceber que mesmo longe dos palcos por quase cinco anos, o respeito e a admiração das pessoas pelo que fiz e faço continuam presentes no meu retorno. Vem mais por aí, pode escrever. UM - Seu pai foi pesquisador de jazz. Como isso te influenciou? RW - Totalmente. Mário Werther foi a pedra fundamental na minha cultura musical. Musicólogo, pesquisador e um aficionado pelo jazz com mais de cinco mil discos do gênero. Não bastasse, dirigiu programas de rádio nos anos 50 e 60, sendo os mais importantes o “Top Jazz”, na Rádio Tupi, e o “Radioscope” na Rádio Jornal do Brasil, além de auxiliar na vinda de artistas internacionais pro Brasil. Nossa casa na Urca vivia cheia de artistas, críticos e músicos como Dick Farney, Moacir Santos, dentre outros que não me recordo. Eram audições de jazz que duravam doze horas. Uma festa. Eu, com dois ou três anos de idade, já era “aplicado” diariamente com aquela enxurrada sonora. Com doze anos, comprei meu primeiro disco, Lee Morgan, Expoobident, pelo selo VeeJay, de 1960. Não parei mais. O velho começou a me induzir a tocar trompete. Ele tinha uma relíquia, um Vivaldo prateado que permaneceu comigo até a liga literalmente apodrecer. Com 22 anos, fui levado por ele e o parceiro Arlindo Coutinho, da gravadora CBS – um dos caras mais inteligentes que conheci, fluente em nove línguas, amigo de tudo quanto era músico daqui e de fora – para ver Dizzy Gillespie no Hotel Nacional, em 1986. Já me dava por satisfeito em ver o show de um monstro sagrado, quando eles me carregaram pro camarim. Não entendi nada. Coutinho era amigo do homem e me dizia pra ficar quieto, não puxar papo e tal. Fiquei de frente praquele senhor, fumando um cachimbo sei lá do quê, com aquela maleta ainda aberta ao seu lado. Não segurei a onda. Desatei a fazer perguntas diferentes daquelas enfadonhas, que nem eu aguentaria ouvir. Foi quando, do nada, ele se virou pros dois e perguntou: “Como esse moleque sabe tanto de jazz assim?” Coutinho respondeu que eu não só sabia como tocava trompete. Meu rosto gelou, minhas mãos suavam e tremiam como vara verde. Gillespie me olhou, deu um pequeno sorriso e arrematou: “É mesmo? Toca pra mim.” Tirou aquele trompete “torto” do case, pegou outra embocadura – as dele eram feitas à mão, sob medida – e me entregou. Fiquei entreolhando o instrumento e todos à minha volta por alguns segundos, que duraram anos. Respirei fundo e toquei as primeiras notas de A Night In Tunisia, de sua autoria e Frank Paparelli. Parei imediatamente, pois mãos e peito não deixavam. Acabei sem meus sapatos – ele gostou do modelo, dei-os na mesma hora – e saímos do camarim para o próprio hotel, bêbados, cantando Nobody Knows The Trouble I’ve Seen. Fui saber por ele mesmo o porquê daquele formato único do trompete. Não havia caído no chão, nada dessas coisas. “É pra me ouvir melhor”, disse. Um gênio que nos deixou em 1993. Depois eu comprei um Yamaha, mas como nunca levava nada a sério, deixei de lado e vendi. Ainda bem que descobri a voz. Já meu pai... Provavelmente foi dar um abraço nele em 2003.

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