Entrevista Igor Prado
Maior revelação do blues nacional dos últimos tempos o bluesman paulista tem grande prestígio nos EUA e Europa. À frente da Prado Blues Band, no qual lançou três discos, encantou o público com uma deliciosa sonoridade vintage, própria do jump blues. A carreira solo, não menos genial, segue firme e recebe importantes elogios. Conheça Igor Prado, sem dúvida, um dos grandes músicos desse país. Ugo Medeiros - O seu CD solo, Upside Down (Chico Blues Records), foi eleito pela revista americana Real Blues como um dos 100 melhores de 2007. Você fica triste por não ter o mesmo reconhecimento da imprensa brasileira? Igor Prado – Não, porque não há uma cena desse estilo, uma categoria em que o nosso trabalho se enquadre, aqui no Brasil. Penso que o reconhecimento é tocar por todos os cantos do país e ver as pessoas curtindo o som, comprando os discos, se interessando e fazendo perguntas sobre jump blues e swing. Há cinco ou dez anos ninguém se interessava. UM - Jerry Hall, renomado produtor americano e dono da Pacific Blues Co., deu a seguinte declaração sobre o disco Flávio Guimarães & Prado Blues Band (Chico Blues Records no Brasil e Pacific Blues Co. na California): "O Brasil não é conhecido pelo blues, mas Flávio Guimarães e Prado Blues Band estarão mudando isso com seu mais novo cd!". Gostaria que você comentasse essa declaração. IP - Isso nos deixa muito orgulhoso, porque o Jerry é um cara das antigas e, inclusive, já trabalhou na lendária Motown, onde gravou nomes como Marvin Gaye, Smokey Robinson e Stevie Wonder. Já produziu também muita gente da pesada do blues, como Kim Wilson, Rod Piazza e muito outros. UM - Ainda sobre o disco com o Flávio, como foi gravar com dois gaitistas virtuosos (Flávio Guimarães e Ivan Marcio)? IP - Foi maravilhoso! Eu praticamente aprendi a tocar guitarra sempre com um gaitista me acompanhando ao lado, gosto muito de gaita, apesar de não tocar. Foi muito legal tocar e produzir esse álbum com dois grandes gaitistas, até hoje esse disco é um dos meus favoritos! Inclusive, atualmente, o meu trio gravou no disco novo que o Flávio lançará esse ano, um álbum só com blues tradicional. UM - O jump blues ou West Coast blues não é muito praticado no Brasil. Como se deu essa influência? Você desde cedo escutava esse estilo ou foi uma descoberta posterior? IP - Esse estilo não é muito praticado em lugar algum. É um movimento feito por poucas pessoas que estudam música e tocam ao redor do mundo. Costumo dizer que é um mix entre o blues e o jazz. Os mestres dessa “onda” estão quase todos mortos e apenas uma pequena minoria continuou. Eu sempre ouvi muito o rhythm and blues de Little Richard e Chuck Berry, já que eles beberam muito do swing. Desde cedo, quando começamos a tocar nossos instrumentos, pesquisamos e estudamos demais esse estilo assim como o blues tradicional. UM - A Prado Blues Band foi uma das grandes revelações do blues brasileiro. Como foi o começo da banda? IP - Nós morávamos bem próximos um dos outros no ABC (SP) e escutávamos praticamente as mesmas coisas. Resolvemos, então, nos juntar e tocar. Esse foi o melhor aprendizado. Curiosamente, fizemos o nosso primeiro ensaio após um ano tocando juntos para a gravação do primeiro CD (risos). UM - Você já excursionou pela Europa. Como foi a recepção? Os músicos brasileiros são bem vistos no exterior? IP - Não só na Europa, mas, principalmente, nos EUA. Este ano fui à Califórnia (West Coast Area) para mixar o álbum novo que sairá no segundo semestre. Acabamos de gravar com um dos pioneiros do west coast blues californiano, o cantor e gaitista Lynwood Slim. Aproveitei para fazer alguns shows com o Lynwood em vários lugares tradicionais no Sul da Califórnia. Percebi que eles já têm um respeito bem legal por nós, parece que eles nos veem como alguém novo dando continuidade a um movimento bem característico da região deles que, infelizmente, não é renovado pelos novos artistas de lá. UM - Qual o seu set básico? IP - Uso uma réplica da Gibson Goldtop de uma marca americana chamada Dillion com captadores enrolados a mão por um especialista chamado Jason Lollar, um americano que reproduz os melhores P90´s atuais. Utilizo um amplificador Fender Twin Tweed, um modelo reeditado dos antigos twins dos anos 50. UM - Qual a diferença entre os discos da Prado Blues Band e o da sua carreira solo? Pode-se dizer que é um trabalho mais focado na guitarra ou que é um Igor Prado mais "solto"? IP - Acho que a minha carreira solo é o seguimento do que fazíamos na Prado, mas um pouco mais focado no saxofone e na guitarra. É um pouco mais jazzy e misturado com rhythm and blues e outras sonoridades do que na Prado. Acredito que seja uma evolução natural de todos da banda. UM - O Jump blues é americano, com influência do swing jazz. Porém, você teve também alguma influência do blues inglês? Ou podemos dizer que o seu som é "genuinamente americano"? IP - Acredito que nosso som tem muitas influências. Atualmente, tenho escutado até choro, pois acredito que esse estilo e o swing têm muita coisa em comum. UM - Quais são os seus planos futuros, tanto com a Prado como na carreira solo? IP - Continuar com todos os projetos, fazer bastantes shows pelo Brasil afora e mostrar o som para o máximo de pessoas possível. Esse será o terceiro ano consecutivo de shows na Europa e estamos muito felizes! Em Junho iremos para dois festivais na Espanha, tocaremos com o gaitista americano Mark Hummel e, ainda, pretendo fazer algumas coisas com o meu quarteto também.