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Entrevista Celso Blues Boy


Entrevista realizada em 2007, no Circo Voador, mas a perdi e a reencontrei nos meus arquivos apenas no dia do seu falecimento. Celso Blues Boy foi a minha primeira entrevista, um cara humilde e simpático. Obrigado, Celso, por tudo! Que a sua guitarra seja ecoada na jam do Paraíso!


***


Ugo Medeiros – Como se deu o seu primeiro contato com o blues?


Celso Blues Boy – Eu sou carioca, mas na época morava no interior, em Blumenau. Lá não tinha muito o que fazer, não tinha televisão. E eu tinha um tio-avô que morava aqui no Rio de Janeiro e viajou para os EUA. Mesmo não entendo nada de música, comprou 50 LP’s indicados pelo vendedor. Dentre esses, tinha de um negão que eu gostei e ficava escutando na minha vitrolinha de pilha. Anos depois fui saber que aquele negão era o BB King, e que aquilo se chamava blues.


UM – Há inúmeros guitarristas de Blues, desde Robert Johnson, BB King, JJ Cale, Buddy Guy, Eric Clapton, entre outros. Qual você considera o mais importante para a sua formação?


CBB – Acredito que tenha sido BB King, Freddie King, Roy Buchnan, Eric Clapton e Rory Gallagher. Acho que esses tenham sido os mais importantes.


UM – Você participou de duas bandas na década de 1970, o Legião Estrangeira e o Aero Blues. Como foi essa experiência? Como era, naquela época, participar de uma banda de Rock e Blues, no Brasil?


CBB - No caso do Aero Blues, foi a banda que tocava no primeiro pub de blues no Brasil, Apaloosa, em Copacabana. Era uma loucura pois tocávamos de terça-feira a domingo, descansando apenas na segunda-feira. Tinham vezes que fazíamos três ou quatro shows em uma sexta-feira ou sábado à noite. E a casa sempre lotada! Foi quando apareceu pela primeira vez um cenário blues brasileiro. A Legião Estrangeira, que veio antes, era uma banda de hard-rock, mas que fazia alguma coisa de blues, que até então ninguém tocava. Foi uma experiência muito legal, pois a banda era praticamente eu mais dois. Tocava com os músicos da época, como Raul Seixas. Nós tocávamos e parávamos. Quando saímos em turnê, às vezes tínhamos que trocar de músico, um ou outro saía. A formação não era sempre a mesma. Dessa forma, conseguimos um sucesso que para a época era muito difícil e uma legião de fãs. Nós fazíamos shows no Teatro da Praia em plena segunda-feira e enchia! Era muito legal.


UM – Em 1984 veio o primeiro LP, Som na Guitarra, e o reconhecimento da mídia. Como foi tornar-se o grande nome do blues brasileiro?


CBB – Eu nunca me considerei como um nome do blues brasileiro. Naquela época não havia ninguém de blues. Eu estourei com um rock’n’roll no começo do movimento "rock Brasil". Ali ninguém tinha SUCESSO, mas apenas um único sucesso, devido ao pouco tempo que essas bandas haviam entrado para a mídia grande. Os Paralamas do Sucesso tinha apenas uma música, assim como o Titãs. Mas quando iam ao meu show, diziam que eu tocava um blues-rock. A partir disso e do meu nome “Celso Blues Boy”, começou-se a criar um cenário de blues no Brasil e um público específico ao final dos anos 1980, o que não é o meu caso... Eu atinjo aqueles que curtem o Blues e o Rock.


UM – Você é amigo do BB King. Como nasceu essa amizade?


CBB – Eu fui entrevistá-lo para uma revista, de guitarrista para guitarrista. Na época eu já estava com bastante sucesso, estava no meu segundo LP. Durante a coletiva me colocaram para falar com ele e ainda colocaram os meus LP’s. Ele ouviu e gostou. Dos três shows que fez, pude ir apenas no último. Neste, a produção reservou um acento perto do palco. De repente ele me chama para tocar e o público vai ao delírio. Após o show, me elogiou bastante e convidou para fazer uma carreira solo nos EUA. Eu não queria e não poderia devido aos contratos e à agenda de shows que tinha. A partir dali ficamos amigos: tocamos em vários lugares, como no Festival de Montreaux, em Paris e no Brasil.


UM – Como você vê o cenário do blues brasileiro hoje em dia? Ainda tem muito o que melhorar?


CBB – O grande problema do cenário blues é que há pouco trabalho autoral. Falemos sério: se você pega uma banda de blues e toca basicamente aquele “quadrado” de blues, coloca uma letra em inglês e diz que a música é dele, não ficará algo muito original. Será algo semelhante a qualquer música que se escuta em um CD de blues americano...


UM – Dessa nova geração de Blues brasileiro quem te chama mais atenção?


CBB – Eu não poderia dizer que é da nova geração, mas pelo menos pra mim é nova: Jefferson Gonçalves. Ele tem conseguido destacar-se com muita originalidade.


UM – Após mais de 20 anos de uma carreira de sucesso, você se sente realizado musicalmente?


CBB – Bastante. Tudo o que eu tenho na minha vida quem deu foi a música. Nunca ganhei nada. Desde os 16/17 anos tudo o que ganhei foi graças à guitarra. Todas as metas que tracei no começo, foram cumpridas e até outras que nunca havia pensado. Meu trabalho está bem feito, mas não quer dizer que esteja terminado.


UM – Se você pudesse escolher algum músico para fazer uma parceria no palco, quem seria?


CBB – Por mais que o BB King já esteja cansado, tocar com ele é muito bom...


UM – Qual a importância do Circo Voador para a sua carreira?


CBB – Você viu a propaganda do show? Leu o que estava escrito embaixo? Estava escrito: “Celso Blues Boy em casa”. Diz tudo né?! Eu sou o recordista de apresentações e de público. Aqui eu realmente me sinto em casa!

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